Análise de imagens de satélite feita pelo MapBiomas aponta evidências de que a coloração diferente nas águas do rio paraense é resultado da explosão do garimpo na região
Desde o início de janeiro, circula nas redes uma imagem aérea do rio Tapajós, em Alter do Chão, com uma coloração amarronzada e barrenta, bem diferente do tom cristalino da água pelo qual são conhecidas mundialmente as praias paradisíacas de Alter, no Pará. De acordo com análise feita pelo MapBiomas a partir de imagens de satélite de alta resolução, a explosão do garimpo no médio curso do rio paraense é muito provavelmente a causa da mudança da cor. A análise indica que a lama dos garimpos de afluentes do Tapajós – como o Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu – está por trás da pluma de sedimentos que tomou o rio neste ano e é visível em todo seu baixo curso até a foz.
O MapBiomas explica ainda que a cheia anual do rio Amazonas – rico em sedimentos e naturalmente barrento – também contribui com a mudança de cor do Tapajós em Alter, já que os dois rios se comunicam na foz do Tapajós, mas só essa relação não basta para explicar as alterações vistas em Alter do Chão e em outros pontos do rio neste ano. A equipe do MapBiomas destaca ainda que é possível ver nas imagens de satélite que a pluma de lama já tomava o rio paraense em julho, mês da seca, quando não há influência do rio Amazonas.
Em sobrevoo pelo rio, a equipe do Mapbiomas confirmou as evidências indicadas por satélite. “É possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro”, conta a equipe do MapBiomas em nota divulgada à imprensa. “A comparação entre rios com garimpo (como o Cabitutu) e rios sem garimpo (como o Cadarini) não deixa dúvida”, completa.
Na última quinta-feira (20), a Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar os motivos da alteração na tonalidade das águas no rio Tapajós. A PF enviou peritos para a região e tinha um sobrevoo previsto para esta segunda-feira (24), conforme detalha nota da PF. A fiscalização aérea será realizada com duas aeronaves do ICMBio.
Além da Polícia Federal e do ICMBio, a comitiva será composta por integrantes do Ministério Público, técnicos do Ibama e pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). A vistoria tem como objetivo analisar a extensão da mancha que provocou a mudança de coloração do Tapajós. Além disso, os peritos da PF irão colher amostras da água turva em diferentes pontos do rio para posterior análise e laudo pericial.
Na semana anterior, a própria Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), junto a técnicos do Ibama, já havia feito uma inspeção de emergência no rio e coletado amostras para análise.
Explosão do garimpo
Um levantamento feito pelo MapBiomas, revela que a área de garimpo na Amazônia cresceu dez vezes nas últimas três décadas, e 2020 (último ano para o qual há dados) registra o recorde da série histórica.
“A pandemia provocou uma explosão no preço do ouro, que em 2020 atingiu pela primeira vez US$ 2.000 a onça troy (unidade de venda de ouro, equivalente a 31,1 gramas). Isso provocou uma corrida do ouro na Amazônia”, destaca a nota.
Fonte: O Eco
Comentários