Jovens participam de oficinas de montagem de instrumentos e aprendizado de cantorias e batidas folclóricas típicas da região, enquanto moradores têm acesso a apresentações artísticas sobre o tema.
O projeto “Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná”, iniciativa do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), completou seis meses de execução com formação em Luthieria Percussiva e Tambor de Gambá para crianças e jovens de Maués (a 267 quilômetros de Manaus). A ação é pioneira e visa valorizar, e fortalecer as manifestações culturais e populares da cidade de Maués.
O projeto Tamboreando está estruturado em dois eixos: formação e apresentação. A formação inclui a construção e montagem de instrumentos, ensino de cantorias e batidas, vivência afetiva e cultural, além da apresentação da orquestra de alunos. Fazem parte do projeto dois grupos: o Dança dos Pássaros e o Troar dos Tambores.
Durante os seis meses da iniciativa, foram realizadas 98 inscrições, ministradas 94 aulas somando 132 horas de ensinamentos, ofertados 2 diferentes cursos (Tambor de Gambá e Luthieria Percerssiva) e construídos 97 instrumentos de percussão pelo alunos, como cheques-cheques, cajons de colo, caraxás e chocalhos. A equipe reúne colaboradores de Maués e seu interior, Manaus e Rio de Janeiro e São Paulo,
De acordo com a coordenadora geral do Tamboreando, Mariana Guimarães, o projeto se fortalece a cada dia. “Os resultados quantitativos e qualitativos são expressivos, confirmando o bem que o projeto faz aos seus participantes, que passaram a ter nas aulas, ensaios e apresentações, uma razão artística em suas vidas”, avalia.
“Mais que isso, o projeto oferece horas de ocupação no contraturno escolar de muitos dos seus alunos, o que vem ajudando significativamente suas famílias com um ensino complementar que muitas vezes não pode ser feito dentro de casa”, completa.
O Tamboreando também impacta positivamente na autoestima da cidade, diz Mariana, pois mostra que Maués é um lugar de criatividade, receptividade e valorização de seu conhecimento local. “A cultura dos tambores da Amazônia desperta o interesse de especialistas, músicos em geral e turistas de diversas partes do mundo. Assim, o aspecto turístico do projeto conversa em harmonia com seu aspecto cultural”, afirma.
A primeira apresentação do grupo Troar dos Tambores ocorreu em fevereiro deste ano. O grupo desfilou pelas ruas de Maués acompanhado do cortejo do Boi Pavulagem, atraindo a atenção e a participação dos moradores. Segundo Mariana, estão previstas mais nove apresentações artísticas do projeto ainda em 2022.
Cultura de gambá fortalecida
O ensino da tradição do Tambor de Gambá e dos instrumentos percussivos é fundamental para a valorização do gênero em Maués. De acordo com a pesquisadora e colaboradora do Tamboreando, a cantora e pesquisadora em Ecomusicologia, Karine Aguiar, a cultura vem passando por uma revitalização.
“Eu diria que hoje a cultura gambazeira é a manifestação de maior expressividade da identidade cultural mauesense. O Gambá enquanto gênero musical e dança quase desapareceu do contexto cultural urbano de Maués, mas sempre esteve muito presente nas festas da zona rural. A cultura gambazeira tem seu momento de revitalização no início deste século através do trabalho incansável de Mestre Barrô e da professora Ruth Hatchwell no Ponto de Cultura CULTUAM, além do antropólogo Cristian Pio Ávila que produziu uma tese de doutorado e outras diversas publicações sobre o grupo de Gambá Pingo de Luz”, contextualiza a pesquisadora.
Karine explica que o Gambá é um complexo cultural de origem euro-afro-ameríndia que envolve música, dança e uma espiritualidade pautada no catolicismo popular, que combina as religiosidades indígena, negra e católica. “Está presente não só em Maués, mas em outros municípios amazonenses como Borba e Novo Aripuanã. O Gambá conta a história dos encontros multiculturais que contribuíram para a formação do que hoje é a sociedade mauesense. Além disto, o Gambá descortina um pouco da presença negra neste município e de como estas populações conseguiram sobreviver nas regiões mais profundas da floresta através da colaboração com o povo indígena Sateré-Mawé”, revela.
Mais sobre o projeto
Dois mestres de Cultura Popular do Amazonas foram idealizadores do Tamboreando: o professor luthier Ricardo Macedo e Waldo Mafra, o mestre Barrô. Ambos faleceram antes da execução do projeto e deixaram um legado de inspiração para o trabalho desenvolvido. Um dos professores que faz parte dessa missão é o luthier Alessandro Cabral, que indica como o projeto vem transformando a vida dos alunos.
“Os resultados são os mais positivos possíveis, e o envolvimento e a participação são melhores ainda. A música, as atividades lúdicas e a construção de seus instrumentos fazem com que o aluno se envolva 100% nas atividades, principalmente nos ensaios das apresentações, onde temos boa participação nos finais de semana”, conta o mestre.
Alessandro ressalta a contribuição do Tamboreando para a valorização e o fortalecimento das manifestações culturais de Maués. “O projeto tornou-se uma espécie de elo de resistência nessa luta para não deixar essas belas tradições serem esquecidas”, declara.
Uma das alunas desde o início do projeto é Vitória Jennifer, de 13 anos, que relata com alegria os conhecimentos adquiridos até agora. “Já consegui construir meu instrumento, um cajon, que eu mesma pintei, colei e toquei. Fiquei muito feliz de ter feito um instrumento pela primeira vez e já participei de apresentações como intérprete mirim”, diz.
“Esse projeto é muito bom para nós, nos ensina a valorizar mais a nossa cultura. Todo mundo adora as aulas, porque aprendemos, construímos e tocamos juntos. Me inspira a querer aprender muito mais, me incentiva a cantar e amar mais o nosso precioso Amazonas”, declara Vitória.
Sobre o Tamboreando
Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná é um projeto pelo Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Cultura e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM); e conta com o patrocínio da Ambev e Guaraná Antarctica, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Fonte: Idesam
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