Projeto capacita moradores de São Bernardo do Campo, em SP, para produzir mel de maneira sustentável
Uma iniciativa que tem como missão capacitar pessoas carentes para que transformem a prática da Meliponicultura em alternativa de renda, segurança alimentar, autonomia social, sustentabilidade econômica e ambiental está em pleno desenvolvimento na cidade de São Bernardo do Campo (SBC), na Grande São Paulo.
Trata-se do programa Pró-Mel SBC, uma ação social que capacita moradores de comunidades carentes como meliponicultores, tendo como projeto piloto os moradores do Bairro Santa Cruz, região denominada de “Pós-Balsa”, no entorno do Parque Ecológico Imigrantes (PEI).
A produção de mel será uma fonte de renda para os participantes. “A ideia é contribuir com o aumento da conscientização ambiental, preservação da natureza, geração de renda e capacitação profissional de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade”, explica Márcio Koiti Takiguchi, diretor do PEI.
O Pró-Mel SBC é uma parceria entre o Parque Ecológico Imigrantes, a Universidade Federal de São Paulo, o Rotary Club de São Bernardo do Campo e o Centro de Formação e Integração Social. “Ao lado de outros agentes polinizadores, as abelhas nativas ajudam na reprodução da flora e na produção de vegetais por meio da polinização cruzada. Um serviço ecológico para a conservação dos ecossistemas e no desenvolvimento da agricultura e produção de alimentos”, explica a professora Fabiana E. Casarin, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UNIFESP.
A introdução e manejo das abelhas nativas são importantes para o equilíbrio ambiental. O Brasil possui cerca de 400 espécies de abelhas nativas, entre as principais estão a Jataí, Mandaçaia, Manduri e Uruçu.
Formação de meliponicultores
O projeto teve início com aulas teóricas e práticas para capacitação e formação de meliponicultores. A configuração das primeiras turmas foi realizada por meio de triagem e entrevistas com os moradores da região do Bairro Santa Cruz. Os próximos encontros estão programados para julho, com uma aula teórica e, em setembro de 2021, com a última aula prática para a turma.
A abordagem teórica destacou temas como a história do relacionamento entre o homem e as abelhas; a diversidade de espécies; as abelhas sem ferrão (melíponas); a importância das abelhas como polinizadoras e como elas levam recursos para a colônia; os meliponicultores e a regulamentação; e a legislação para produtores no Estado de São Paulo.
Aula prática em ambiente aberto
Respeitando o distanciamento físico e o uso de máscaras e seguindo os protocolos sanitários de combate à Covid-19, a primeira aula prática foi realizada no Parque Ecológico Imigrantes. A turma, com 30 participantes, foi dividida em três ilhas.
Na primeira ilha, o tema foi a Biodiversidade. Para observar com detalhes as características biológicas específicas das abelhas utilizou-se amostras de animais secos, vistos por meio de microscópios com lupa. “Trabalhamos com as espécies melíponas e os trigoniformes (como exemplo, Trigonas, Scaptotrigona, Oxytrigona etc) nativas do Brasil. Além dessa espécie, trouxemos as abelhas esverdeadas e azuladas que são solitárias e importantes polinizadoras”, explica a professora Michelle.
As estruturas dos ninhos naturais e artificiais foram observadas pelos alunos na segunda ilha. “As melíponas e trigoniformes costumam fazer ninhos em ocos de árvores (além de ninhos aéreos, buracos no solo ou ninhos abandonados de formigas e cupins). Por meio de fotos em banners mostramos como são os ninhos na natureza e quais as possibilidades de reproduzi-los fora da mata, com as colmeias”, ressalta a professora Fabiana.
Por meio de colmeias, feitas em caixas com laterais em acrílico transparente, pode se ver três colônias com diferentes tipos de abelhas trigoniformes. Isso possibilitou aos alunos enxergar a estrutura interna, como são construídos os favos, o formato, a disposição no ninho, os potes de alimento e a diferença entre as espécies na alimentação e fabricação do mel.
A captura dos enxames na natureza foi o tema da terceira ilha. As professoras usaram para demonstração o que elas chamam de ninho armadilha ou “caixa isca”. São atrativos colocados em garrafas pet que atraem as espécies para que possam ser levadas para as colônias. Como experiência, elas abriram um ninho de abelhas melíponas para mostrar as estruturas internas.
Nessa etapa, os participantes conheceram os favos de alimentos e experimentaram o produto. Compararam a diferença de sabor, cor e viscosidade que o mel dos meliponíneos tem em relação ao produzido pela espécie de abelha africanizada Apis mellifera mais popular no Brasil.
As abelhas brasileiras
As abelhas brasileiras são consideradas eussociais, com espécies nativas presentes em todo o território nacional. A eussocialidade possui três características: a sobreposição de gerações em um mesmo ninho, o cuidado cooperativo com a prole, e uma clara divisão de tarefas (reprodutores e operárias). Entre as espécies de abelhas brasileiras sociais estão as Meliponas e os Trigoniformes.
As abelhas operárias realizam a maioria das atividades de sustento do enxame, como construção e manutenção dos discos/cachos de cria, coleta e processamento de alimento, limpeza e proteção da colônia e cuidado com as crias. A rainha é responsável pela postura dos ovos e os machos são responsáveis pela fecundação das princesas (rainhas virgens).
Nas Meliponas, um quarto das operárias podem virar rainhas de acordo com a proporção da distribuição genética, enquanto os Trigoniformes constroem células reais que têm tamanho maior e recebem mais alimentos que as células comuns, conhecidas como “realeiras” e dão origem a uma rainha virgem (princesa).
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