A construção de infraestrutura é um dos caminhos quase infalíveis para colocar fim em problemas de emprego e desenvolvimento. Não foi à toa que os EUA iniciaram enormes projetos de infraestrutura
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O que chamamos hoje de “Manaus Moderna” é quase uma afronta ao Amazonas. Dentre os Princípios Fundamentais da Constituição Federal brasileira, há o Art. 3º, que estabelece os Objetivos Fundamentais da República e nele está posto: “II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” Precisamos colocar este objetivo em prática, pelo menos naquele ponto da cidade.
Na Região Hidrográfica da Amazônia estão 80,98% das Vias Economicamente Navegadas do país em navegação de interior. São mais de 15.552km no Complexo do Solimões-Amazonas, segundo estudo da ANTAQ. Ainda segundo a agência, a maior parte dos atendimentos dos terminais portuários do Amazonas possuem o padrão mínimo. Quem mora por aqui nem precisa de estudo para ter esta conclusão.
É claro que este não é um problema de agora. É um descaso secular e que pode ser enfrentado tão logo exista interesse da sociedade e dos governos. O jeito improvisado em Manaus espelha o oposto do que deveríamos ter: um terminal e operação exemplares para o mundo. Os desafios são grandes, mas são plenamente realizáveis e possuímos o domínio técnico necessário. Precisamos começar a demonstrar um mínimo respeito com o interior.
A construção de infraestrutura é um dos caminhos quase infalíveis para colocar fim em problemas de emprego e desenvolvimento. Não foi à toa que os EUA iniciaram enormes projetos de infraestrutura, da ordem de US$ 1.3 trilhão em 2019. Mesmo a União Europeia (UE), em 2014, já fazia projetos de 307 bilhões de Euros.
Em junho de 2022 os EUA e a UE começaram a fazer esforços conjuntos para projetos internacionais, por conta de questões geopolíticas, podendo chegar à US$ 600 bilhões de investimentos conjuntos. Isso para contrapor minimamente a China que, em seu “Belt and Road Iniative”, aplicou cerca de US$ 1 trilhão desde 2019, com projetos em 70 países.
Se temos verdadeiramente interesse na soberania da Amazônia precisamos contrapor os 3 milhões de quilômetros de estradas irregulares detectados pelo Imazon. Para isso, um caminho rápido é construir infraestrutura formal, sustentável e competitiva. Os rios já estão postos, mas os portos estão séculos atrasados em relação ao que podemos chamar de modernidade. Está na hora de começarmos a dar a importância que o interior da Amazônia merece e necessita.
Um porto para cada calha de rio é uma grande oportunidade para o Amazonas. Poderíamos ter diferentes portos em Manaus e conexões rápidas para pelo menos uma cidade importante em cada um dos Rios: Solimões/Amazonas, Negro, Branco, Madeira, Purus e Juruá.
Existem cidades com grande potencial econômico, desde que os retroportos contemplem o que é necessário para carga e descarga rápida do que for a principal atividade econômica potencial, o que significará a necessidade de terminais de passageiros, armazéns frigoríficos para peixes ou a criação de indústrias alimentícias com expressiva capacidade produtiva.
Precisamos começar a cumprir este Objetivo da República e dotar o interior do Amazonas de infraestrutura sustentável para que ele possa produzir. Fora disto, nunca superaremos as múltiplas dificuldades de localização e de custos. Além das oportunidades nacionais, há certamente possibilidades de integração intrarregional, pois o Amazonas é grande, com muitos municípios próximos entre si e ainda mais próximos de outras capitais ou países.
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