Segundo Denis Minev, um dos fundadores do portal Brasil Amazônia Agora, “…é decisivo que o Brasil deixe de olhar para a Amazônia como um problema e passe a encarar a região como a maior oportunidade ambiental, econômica e social. “Rematamento” é apenas um dos aspectos. Podemos ser os maiores produtores de proteína do mundo (com piscicultura, por exemplo, sem desmatar nem mais um hectare), ou podemos encontrar curas para os males da humanidade na nossa imensa biodiversidade. O mais importante é que o Brasil desenvolva uma ambição saudável na Amazônia.”
Por Salo Coslovsky e Denis Minev
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Em 1962, o presidente John F. Kennedy fez um discurso histórico anunciando que os Estados Unidos colocariam um homem na Lua. Naquela ocasião, a maior conquista do programa espacial norte-americano tinha sido um voo suborbital de 15 minutos. Sete anos depois, seus astronautas caminharam triunfantes na superfície lunar. Desde então, o termo moonshot (em português, “almejar a Lua”) passou a definir desafios ambiciosos e arriscados, mas com potencial de mudar o mundo.
O Brasil está diante do seu próprio moonshot: em vez de abrir novas áreas na Amazônia, o país pode tornar-se uma potência econômica ainda nesta década se usar de forma inteligente os mais de 70 milhões de hectares já desmatados, mas abandonados ou subaproveitados, uma área bem maior que a França.
Imaginemos um grande projeto nacional para “rematar” essas bordas da floresta. O “rematamento” combina a restauração da vegetação nativa com a recuperação de áreas degradadas. Ambas as atividades são benéficas e rentáveis. A restauração captura carbono, regula o clima e protege a vida silvestre. Por isso seus créditos valem mais que créditos de carbono convencionais e têm empresas como Vale, Shell e Amazon como clientes. A recuperação permite a produção de óleos, frutos, peixes, madeira e carne. Esses produtos têm mercados globais enormes, onde a participação da Amazônia ainda é ínfima. Há também ganhos sociais: a recuperação cria empregos, especialmente para jovens.
Modelos já existem: o projeto Reca, em Rondônia; a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) e a Belterra Agroflorestas, no Pará; o Café Apuí, no Amazonas; a Regenera e a Floresta S.A., em Roraima, dentre outros.
Nosso desafio mais urgente é ganhar escala. Para começar, que tal rematarmos 1 milhão de hectares por ano? O custo não é problema. Em alguns locais, a floresta regenera-se sozinha. Noutros, é preciso pagar por mudas, adubo e mão de obra, mas, em poucos anos, o fluxo de caixa torna-se positivo. E, alguns anos depois, boa parte da receita é lucro. Além do lucro privado, beneficia-se a sociedade. Áreas recuperadas por meio de sistemas agroflorestais geram receita anual entre R$ 10 mil e R$ 50 mil por hectare; para cada 1 milhão de hectares recuperados, outros R$ 10 bilhões a R$ 50 bilhões irrigam a economia da região, um valor expressivo quando comparado ao PIB da Amazônia Legal, de R$ 600 bilhões.
Ainda mais, novas indústrias surgem e crescem a partir daí, gerando transformação nacional. Por fim, a prosperidade oriunda da floresta gera impactos políticos, sociais e econômicos que ajudam a dissolver a pressão local por novos desmatamentos. Ao cabo de uma década de “rematamento”, o Brasil emerge como a maior potência florestal, alimentícia e ambiental do mundo, nosso destino.
Essa é só uma de inúmeras oportunidades na Amazônia. Temos aqui a chance de uma geração imaginar outro Brasil, com sonhos grandes e um projeto de nação que motive e orgulhe a todos nós. Será pelo “rematamento” da Amazônia que o Brasil se reinventará e encontrará sua redenção.
Matéria publicada originalmente n’O Globo, recompartilhada com autorização de Denis Minev, parceiro e cofundador do portal Brasil Amazônia Agora
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