“…essa Mostra vai revelar os diversos olhares e registros da relação da cultura urbana com a natureza de uma cidade que emerge da floresta”. Eliane Mezari
Por Alfredo Lopes
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Promovido pela Academia Amazonense de Letras, está aberto a partir desta terça-feira, o Salão de Arte Contemporânea, nas dependências do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, uma referência de Educação e Cultura na história do Amazonas. A curadoria está a cargo de Sérgio Cardoso, um remanescente destacado de promoção da cultura amazônica, um produtor artístico, dramaturgo, poeta e integrante de uma saga de resistência jornalística, das artes gráficas e da edificação de nossa identidade cultural.
Sérgio teve o cuidado de reunir os olhares mais singulares da estética florestal para trazer essa dialética dos conflitos e confrontos deste momento doído da realidade humana. Sem dúvida, foi exatamente essa sua inspiração e critério. Afinal, Sérgio Cardoso, graças aos deuses do Olimpo, é um acendedor de lampiões, produtor e semeador das artes tropicais e universais amazônicas.
O evento é oportunidade única de ver a nata da produção artística, que interpreta com inspiração singular o cotidiano e a história ética e estética da Amazônia, de origem nativa e/ou bem-vinda de todo o Brasil e da Terra. Uma celebração do impulso artístico que descreve e prescreve luzes e trilhas de transformação e esperança de que a vida “podia bem melhor e será”.
A lua e a ponte
Um destaque do Salão de Arte Contemporânea, entre tantos que merece contemplação e envolvimento estético, é a obra de Eliane Mezari, uma paranaense que já fincou as próprias raizes, afetivas e estéticas, na Amazônia. “É impossível impedir a metamorfose amazônica, ela nos seduz e agrada”. Segundo Eliane, “… essa Mostra vai revelar os diversos olhares e registros da relação da cultura urbana com a Natureza de uma cidade que emerge da floresta. Natureza e Cultura em busca de harmonia e poesia ambiental e da urbanidade natural. Na minha interpretação deste relacionamento fantástico, busco descrever um diálogo fecundo entre a Lua e a Ponte, uma ilumina e a outra aproxima, reúne, cria vínculos, soma e transforma a função em afeição”.
Afinal, o que é uma obra de arte?
É algo, em princípio, indefinível, no conceito filosófico de obra de arte, que é, a um tempo, interpretação bem-aventurada do cotidiano, e é uma teogonia “sem parede nua para se encostar”, tributo poético a Drummond e a Hesíodo, seu inspirador. Nessa parede podemos expor nossos desejos, cantos e desencantos, o caos e o logos da transformação. Uma interpretação que supõe a contemplação e a atitude amorosa do acolhimento, as premissas de sua compreensão, mensagem e adoção. Eis porque os artistas, os arautos da criação e perenização da Arte em caixa alta, devem ser prestigiados e referenciados.
Trilhas filosóficas
Ao criar o termo teogonia, Hesíodo quis ilustrar a necessidade humana de cultuar seus deuses na caminhada trôpega da humanidade, sempre à procura de traduzir o próprio abandono numa conexão cósmica que venha amenizar a dor do existir. O surgimento dos mitos transcendentais cumpre o papel de referenciar e acalentar essa agonia humana. Eis porque a obra de arte vai além, na medida que vela e revela o enigma existencial, apontando suas contradições e desafios. Dizendo de outro jeito, a obra de arte é um modo privilegiado de descrever as relações do cotidiano. E esse cotidiano, nas trilhas do filósofo Heidegger, converte-se em compreensão poética do mundo, questionando o alcance, a duração e a legitimidade da arte.
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