“A devoção a Maria da Amazônia tem este significado: a mãe que acolhe, protege e ensina as implicações do ato de cuidar.”
Dom Cláudio Hummes
Por Alfredo Lopes
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O cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morreu hoje aos 87 anos na capital paulista. A informação foi confirmada em nota pela Arquidiocese de São Paulo. De acordo com a entidade, o religioso morreu após “prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus”. Em março deste ano, ele renunciou à presidência da Ceama (Conferência Eclesial da Amazônia) diante do agravamento de um câncer no pulmão, segundo informações do UOL Notícias.
Missão dada por Papa Francisco
Dom Cláudio, reconhecido em São Paulo e na Europa como a voz da Amazônia, era devotado à região, sobretudo depois que Papa Francisco assumiu a liderança da Igreja. Há dois anos, quando completou 85 anos, e 6 anos de presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM e presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Foi dele a iniciativa do Sínodo da Amazônia, realizado há três anos, momento importante de exaltação da importância cultural, climática e socioambiental e de divulgação da problemática amazônica, do crime organizado, do desmatamento criminoso e das queimadas planejadas para expansão da fronteira agrícola.
Missão e devoção
Em comum acordo com o Papa Francisco, voou para a Amazônia em 2014, para iniciar um trabalho pastoral da maior importância, a Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM e a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Quando esteve no Brasil, em sua primeira viagem ao Exterior, depois de escolhido pelo Colégio de Cardeais – Dom Cláudio liderou o movimento que culminou com a decisão de eleger o cardeal argentino – Papa Francisco convocou cardeais e bispos da América Latina para debater a Amazônia. Uma longa e detalhada conversa, revelou Dom Cláudio quando aqui chegou para contar sua delicada missão.
Amazônia sob a mira da Igreja
Tive a honrosa missão dada por Dom Sérgio Castriani e Padre Reneu Stephanello, de integrar o comitê de recepção a Dom Cláudio, um ilustre missionário, com a autoridade papal de conhecer e se comprometer com a Amazônia, sua gente, especialmente as populações tradicionais e indígenas. Foi um dia histórico, 30 de novembro de 2014. Um encontro marcante na minha história pessoal. Havia trabalhado com o cardeal nos anos 80, ocasião em que atuava na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na coordenação do Departamento de Teologia sob a orientação de outra referência missionária Dom Paulo Evaristo Arns. Dom Hummes era arcebispo de Santo André, do ABC Paulista, Região Metropolitana de São Paulo. O Brasil passava por grandes transformações e tive a oportunidade de conhecer um frade franciscano como líder de uma Igreja que se voltava para o cristianismo primitivo através das Comunidades Eclesiais de Base.
Amazônia, desmate, queimadas e tráfico
Foi esta a inspiração de homenagem a Maria da Amazônia, uma devoção simbólica e urgente, pois a região arde pelas queimadas e padece os açoites do crime organizado, do tráfico de drogas e de pessoas, do Comercio sexual e de órgãos humanos. Era um domingo de sol. Cheguei mais cedo ao Santuário Nossa Senhora da Amazônia ,propositalmente situado no meio da floresta do Tarumã, um afluente do Rio Negro. Dom Cláudio foi encontrar-se com Dom Sérgio e padre Reneu, o pároco, líder e referência histórica do Santuário, hoje sob cuidados de padre Charles Cunha.
“Acolhe, protege e ensina a cuidar”
Em sua pregação, durante a Missa, Dom Cláudio fez questão de relembrar a doutrina seguida pelo Papa Francisco, a quem ajudou na escolha do nome oficial do pontífice. “A Igreja é sempre a mesma, o mesmo Jesus Cristo, a mesma mensagem. Mas como atualizá-la de forma que seja uma mensagem para o mundo de hoje? Para que seja uma luz? É preciso trazer a Igreja para o tempo de hoje. Jesus não veio condenar, mas salvar. A Igreja precisa ser mais missionária”. E finalizou dizendo que desembarcou em Manaus para atualizar o conceito evangélico de missionário, do significado das boas novas para uma população empobrecida e os recursos naturais em processo de depredação. “A devoção a Maria da Amazônia tem este significado: a mãe que acolhe, protege e ensina as implicações do ato de cuidar.”
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