O atual governo tem sido um festival inesgotável de mediocridade e mesquinhez. Mas poucas coisas, salvo a covardia do presidente e de seus asseclas na pandemia, se comparam com a resposta oficial ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javari, no Amazonas.
Cobradas por um envolvimento ativo das Forças Armadas nas buscas, as autoridades federais ofereceram notas patéticas à imprensa – e meia dúzia de fotos ainda mais ridículas – para mostrar que estavam fazendo algo. Dói concluir isso, mas seria mais honesto se eles simplesmente ignorassem a questão: dá na mesma.
Ao longo desta 3ª feira (07/6), ativistas, jornalistas e lideranças indígenas pressionaram o ministério da defesa por apoio nas buscas por Pereira e Phillips. As ações oficiais começaram apenas na manhã de ontem, mais de 24 horas depois da confirmação do desaparecimento deles. Mesmo assim, as equipes apenas refizeram o trecho de rio que a dupla deveria ter feito no último domingo, sem o apoio efetivo de helicópteros ou equipes de terra. Foi o suficiente para o ministro da justiça postar em sua conta no Twitter algumas fotos constrangedoras de alguns poucos soldados entrando em um barco simples para começar a busca.
Colegas de Phillips no Guardian atualizaram ao longo do dia no Twitter o statusdas buscas no Vale do Javari. Tom Phillips, que também é correspondente do jornal britânico no Brasil, confirmou com lideranças indígenas que as forças oficiais de segurança não ofereceram praticamente apoio algum aos grupos que estão à procura deles desde o domingo. O editor de meio ambiente do Guardian, Jonathan Watts, também reafirmou a falta de apoio governamental nas buscas.
Ao mesmo tempo, uma fonte indígena informou Elaíze Freitas e Eduardo Nunomura, do Amazônia Real, que Pereira e Phillips teriam sido vítimas de uma emboscada de pescadores envolvidos com narcotraficantes que atuam na Terra Indígena Vale do Javari. Importante ressaltar que essa informação não é oficial e que, até o começo da noite de ontem, não tinha confirmação.
Familiares de Pereira e Phillips também passaram o dia pedindo às autoridades por mais apoio e envolvimento nas buscas. A irmã de Phillips, Sian, pediu mais agilidade das equipes de busca e lembrou que “cada minuto conta” para a sobrevivência deles. “Nós amamos nosso irmão e queremos que ele e seu colega brasileiro sejam encontrados”. A companheira do jornalista, Alessandra Sampaio, fez um apelo emocionado em entrevista à TV Bahia (Globo): “Eu queria fazer um apelo para o governo federal e para os órgãos competentes, para intensificarem as buscas, porque a gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor”.
O presidente da República, por sua vez, deu mais um show de insensibilidade e desrespeito com o próximo. Questionado sobre a situação, ele responsabilizou as vítimas, classificando a expedição como uma “aventura” e que “não era recomendável” fazer uma viagem de barco sozinhos. “Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente” – declaração que normaliza a execução de pessoas em certas áreas do país que ele preside.
Se o presidente não demonstra constrangimento aqui em casa, fica a esperança de que as cobranças sejam fortes o suficiente nos EUA, para onde o atual ocupante do Palácio do Planalto se dirige para participar da Cúpula das Américas. A situação tem sido acompanhada pelos principais jornais, como NY Times e Washington Post, além de Financial Times, BBC e Reuters. A líder indígena Sônia Guajajara denunciou ao enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, a omissão do governo federal nas buscas por Pereira e Phillips.
Fica aqui nossa esperança de que Bruno Pereira e Dom Phillips sejam encontrados bem e logo – e, mais difícil, que o presidente encontre algum pingo de dignidade nos EUA antes de voltar para casa.
Fonte: Clima INFO
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