Recém eleito, Lula está no Egito para participar da COP27 e encontrou-se com governadores da Amazônia Legal que lhe entregaram um pedido de um novo modelo de cooperação para a região
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva participou na manhã desta quarta-feira (16) de seu primeiro evento público na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas: um encontro com governadores dos estados da Amazônia Legal. Deles, recebeu uma carta em que os mandatários dos governos estaduais se comprometem com a preservação do bioma e pedem uma nova cooperação com a administração federal.
Lula não fez discurso oficial – este esperado para mais tarde –, mas, ao responder à carta, deu novos acenos de como pretende conduzir sua política climática daqui para frente. “O Brasil está de volta ao mundo […] Nós vamos fazer uma luta muito forte contra o desmatamento ilegal. É importante as pessoas saberem que nós vamos cuidar, e cuidar muito, dos povos indígenas e vamos criar o Ministério dos Povos Originários, para que essa gente não seja tratada como bandido”, disse o presidente eleito.
Ele também informou que pretende lançar o Brasil como candidato para sediar a Conferência do Clima daqui a três anos, quando novamente for a vez de a América Latina receber o evento.
“Quando ficar certo que nós vamos falar com o Secretário-Geral da ONU [António Guterres], vamos pedir que a COP de 2025 seja feita no Brasil, que seja feita na Amazônia. Na Amazônia, tem dois estados aptos para receber qualquer conferência internacional, Amazonas e Pará”, disse Lula. Segundo ele, será importante que os participantes da Conferência do Clima possam conhecer de perto a realidade da floresta tropical brasileira.
Lula também afirmou que pretende restabelecer diálogos com todos os entes federados, de forma a poder atender as necessidades locais.
“Nós vamos voltar a fazer o Brasil conviver democraticamente com seus representantes. Não é possível que um Presidente da República não faça reuniões, não é possível que um presidente pense que é capaz governar o Brasil sem levar em conta as necessidade dos estados e, dentro dos estados, as necessidades das cidades”.
Carta da Amazônia
Lula recebeu das mãos de governadores da Amazônia uma carta pedindo que “uma nova cooperação com o governo federal” seja firmada, “orientada pela ciência, estabilidade e reforço institucional e impulsionada pela determinação e pela vontade política de ambas as partes”.
Quatro dos nove governadores estavam presentes: Helder Barbalho (PA), Gladson Cameli (AC), Mauro Mendes (MT) e Wanderlei Barbosa (TO). Destes, apenas Barbalho não apoiou Bolsonaro nas últimas eleições.
Apesar das dissonâncias políticas no pleito passado, os governadores se comprometeram com uma agenda voltada para a conservação e desenvolvimento sustentável na região. Eles também aproveitaram a oportunidade para pedir avanços no estabelecimento do programa de serviços ambientais (PSA) e do mercado de crédito de carbono.
“Precisamos da floresta viva, isto é, capaz de prover serviços ambientais e gerar remuneração por eles e pelos produtos dela derivados. Essa noção de vida, é o marco que nos permitirá a monetização da floresta enquanto nova “commodity” no mercado de bens e serviços ambientais”, diz carta dos governadores.
Os governadores também pediram do novo Governo Federal incentivo à integração desenvolvida entre eles e às cooperações já conquistadas em nível internacional pelo Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, instituição jurídica formalizada nos primeiros anos do governo Bolsonaro para fazer frente à inação da administração Federal na captação de recursos.
“Propomos um esforço conjunto que permita maior celeridade na tramitação dos apoios internacionais, em particular aqueles na área financeira, de modo a transformar a realidade da floresta e das comunidades locais em prazos mais curtos”, pedem os governadores no texto.
Além dos governadores do Pará, Acre, Tocantins e Amazonas, também participou do evento a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, integrante da comitiva de Lula, além de senadores, deputados federais e estaduais e secretários de estado.
Às 17 horas Egito – meio dia no Brasil – Lula fará seu pronunciamento oficial na COP, no qual deve afirmar que o combate às mudanças climáticas anda de mãos dadas com o combate à fome e à pobreza.
Esta reportagem foi produzida como parte do Climate Change Media Partnership 2022, uma bolsa de jornalismo promovida pela Internews´ Earth Journalism Network e pelo Stanley Center for Peace and Security.
Comentários