Vale a pena se deixar levar Nas pegadas da Alemoa e por seus personagens eruditos no conhecimento/esclarecimento de quem vive a floresta e é capaz de responder aos achismos dos neo-experts em Amazônia que pipocam pra todo lado.
Por Alfredo Lopes
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Por que o livro Nas pegadas da Alemoa, do búlgaro+amazônida, Ilko Minev, segue semana após semana como o mais vendido no ranking nacional de literatura? Eis uma indagação da hora para um país que tem muitas histórias para contar e poderia fazer disso uma estratégia de afirmação da própria identidade. Minev é um autor destacado da literatura judaica na Amazônia e, em sua obra, encontramos as boas novas de quem sabe abordar com inteligência os segredos da selva. Com ela seus personagens dialogam há mais de dois séculos. E já faz séculos que a humanidade busca interpretar a partitura intuitiva dessa sinfonia da vida, pois pressente as respostas que nela habitam para seus dilemas fundamentais.
Nas pegadas da Alemoa poderia ser interpretada como uma das mais ricas metáforas de compreensão da Amazônia, o país de mulheres guerreiras, escolhidas por Ilko Minev, tanto para conduzir a narrativa, a cargo da jovem Rebecca, e da Alemoa, personagem central da obra, e a busca de seus vestígios que se confundem com os mosaicos das diversas faces da Amazônia, algo que é urgente revelar. Rebecca sintetiza a saga judaica na região, aqueles que não a abandonaram essa Nova Terra Prometida, mesmo quando a quebra do Ciclo da Borracha, há mais de um século, expulsou seus múltiplos empreendedores em direção à economia cafeeira do Sudeste. Os judeus optaram decididamente pela Amazônia desde o início do Século XIX, a ela se integraram na construção de uma nova civilização, tropical e empreendedora.
Alemoa é a filha indígena de um explorador alemão nazista, que veio para a floresta construir uma Amazônia para Hitler chamar de sua, pouco antes da II Guerra Mundial. O livro acentua o papel da mulher em toda a narrativa de Rebecca que, ao procurar a Alemoa enfrenta os desafios, desnuda e desconstrói, como diz a lenda, a imagem predatória masculina, sempre e quando ele se mostra egocentrado e desumanizado pela impotência de acolher/decifrar a Amazônia, sua feminilidade, alguém que exige fino trato, respeito, admiração e submissão a seus mandamentos.
Nas pegadas da Alemoa seduz leitores porque também é uma epopeia de enfrentamento dos desafios amazônicos, são histórias que nos permitem especular sobre as dimensões do mistério e das proezas necessárias a sua compreensão. Os livros de Ilko Minev tem sempre esse ingrediente da pedagogia amazônica, que conduz ao seu entendimento e acolhimento de suas surpresas. São premonições literárias de quem costura carinhosamente os pedaços de uma colcha de retalhos étnicos, estéticos, culturais e econômicos que formam este Brasil ignoto e biótico. Seus personagens são contaminados pela lucidez de quem não separa bravura e ternura, permanentemente implicadas como uma chave mestre que abre as portas que levam ao altar da esfinge. Onde estão as Flores, A filha dos Rios, Na sombra do Mundo Perdido são preciosas narrativas, obrigatórias para quem quer mergulhar, com mente aberta e o coração tranquilo, nos sabores e louvores do país das Amazonas. Seria este o maior fascínio de Ilko Minev? Pergunte a seu leitores.
Vale a pena se deixar levar Nas pegadas da Alemoa e por seus personagens eruditos no conhecimento/esclarecimento de quem vive a floresta e é capaz de responder aos achismos dos neo-experts em Amazônia que pipocam pra todo lado. O papel da floresta na questão climática, a dinâmica do carbono, a urgência de financiar seus serviços ambientais e remunerar a vigilância de seus guardiões. Minev descreve os equívocos dos diversos tipos de garimpeiros ou piratarias do século XXI, os miseráveis da depredação e da usurpação em prejuízo do encantamento e da abordagem interativa, que permite conquistar benefícios de que a humanidade precisa.
Por fim, a trama cinematográfica de Nas pegadas da Alemoa trata da existência de um plano do governo alemão, descoberto nos acervos federais da Berlim do nazismo, sob o título “Guayana-Projekt”, que virou livro e muita polêmica por ocasião de seu lançamento em 2008. O roteiro se transformara em história em 1935, com apoio e simpatia do governo brasileiro, e com uma expedição de cientistas alemães “interessados nos princípios ativos da biota amazônica”, verdadeiramente focados nas jazidas do Amapá onde, ainda hoje, sobram ouro e diamantes capazes de lavar o dinheiro de qualquer organização criminosa e seus propósitos sinistros como aquele do “Guayana-Projekt”. Passado quase um século, alguns fantasmas persistem em nos assombrar com suas atrocidades e barbárie que nos obrigam a reafirmar valores, atitudes e boas escolhas que desfilam na sedutora literatura búlgara, judaica e amazônida de Ilko Minev.
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