Indicadores das últimas três décadas de municípios produtores de soja analisados pelo Cebrap e UFABC quebram o mito de que esta monocultura eleva a qualidade de vida. Os índices de pobreza extrema aumentam à medida que a soja domina os campos, notadamente nas regiões Norte e Centro-Oeste – coincidentemente, as fronteiras de desmatamento do Cerrado e da Amazônia. A exceção é a região Sul.
Para cada aumento percentual na área de soja, a renda per capita cai 0,001% no Sudeste. Mesmo no Centro-Oeste, considerado o benchmark nacional da produção de soja, o crescimento na renda per capita é de apenas 0,008%.
Em entrevista ao Valor, Louise Nakagawa, do CEBRAP, cita o MATOPIBA como exemplo: “Há grandes [municípios] produtores que não têm agência bancária, onde os níveis de escolaridade são baixos e há maior índice de desigualdade”. Segundo ela, “uma das nossas constatações é a concentração altíssima de riqueza, quando os donos dessas propriedades rurais [comumente grandes empresas], certamente nem moram no município produtor. Isso tem um impacto na circulação dos recursos financeiros nesses municípios”.
Ainda no Valor: estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) traz a receita de bolo para os sojicultores não só reduzirem as emissões de carbono de suas lavouras, como também as transformarem em sumidouros de carbono (de olho, obviamente, no mercado de créditos de carbono). Mas como os pesquisadores observam, para isso não pode haver desmatamento.
Enquanto o crédito de carbono não vem, a crise climática mostra a que veio: o valor das indenizações pagas no seguro rural aos produtores brasileiros aumentou 94% em 2021 em comparação com 2020. O valor geral é recorde e representa um aumento de 246% em relação a 2019, de acordo com a Federação Nacional dos Seguros Gerais (FenSeg). A notícia é do Valor.
Mas para os produtores, uma distorção do mercado reduz a percepção do custo climático: em todo o mundo, estoques baixos de commodities estão turbinando os preços. Isso vale tanto para a soja como para o minério de ferro ou o petróleo. Segundo matéria do Financial Times reproduzida pelo Valor, a corrida por matérias-primas e alimentos básicos está se refletindo nos mercados futuros, onde o preço para entrega de algumas commodities no curto prazo excede o de longo prazo. Para os consumidores, esse cenário é certeza de que a inflação seguirá alta.
Fonte: ClimaInfo
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