A fonte de energia solar deve ultrapassar a eólica ainda neste ano na matriz elétrica brasileira. E mais: projetos em telhados de casas e comércios já geram mais que Itaipu
Por Fernanda Bastos – Revista Exame
A matriz elétrica brasileira é 200 gigawatts (GW) de capacidade instalada. As hidrelétricas são responsáveis pela maior parte dessa produção, e somam um volume em torno de 110 GW. Na sequência, a fonte eólica está em segundo lugar, totalizando 22,3 GW. Enquanto a energia solar fotovoltaica, a terceira colocada, conta com mais de 20,2 GW de capacidade instalada. Até o final do ano,
Há uma grande possibilidade de que a matriz solar fotovoltaica ultrapasse a fonte eólica até o final do ano, segundo especialistas da associação.
De acordo com boletim de julho do Ministério de Minas e Energia (MME), as fontes renováveis deverão aumentar sua participação na matriz, e a capacidade instalada de geração distribuída solar cresceu e continua em destaque, com tendência de aumento de mais de 80% em 2022, em relação a 2021. A participação da fonte solar fotovoltaica na oferta interna de energia elétrica do Brasil deve aumentar de 2,5% para 4,1% em 2022, indica o boletim de energia, publicado em 10 de outubro.
Brasil se beneficia dessa fonte de energia solar
O Brasil se beneficia desse processo de transição energética por ser um país com uma grande quantidade de radiação solar, o que facilita o uso da matriz solar. Dentre os motivos que justificam o crescimento da fonte, estão: a melhoria tecnológica, a evolução do mercado energético no Brasil e a competitividade da matriz solar. Além disso, cada vez mais, os países buscam fontes renováveis para utilização energética, e a fonte solar se mostra como uma alternativa, pois não emite carbono (CO2) e tem baixos impactos ambientais.
“Além da forte ampliação que vem se estruturando para oferecer uma solução eficiente e um ambiente bastante competitivo no mercado, que vem contribuindo para que a energia solar seja competitiva para o consumidor final, nós tivemos a ampliação tanto das usinas solares e, mais recentemente, uma forte aceleração do mercado”, afirma Márcio Takata, conselheiro da Absolar.
O que é geração distribuída?
A geração distribuída corresponde ao modelo da energia solar onde são utilizadas placas solares sobre os telhados das casas, dos edifícios comerciais e industriais. Este formato distribuído corresponde a micro usinas que geram energia para o autoconsumo. Segundo Takata, a geração distribuída contribuiu fortemente para a ampliação da fonte solar especialmente nesses últimos quatro anos.
Por esse motivo, a energia solar é uma tecnologia que está permitindo, não só grandes empresas, mas também consumidores de todos os portes, inclusive o residencial, terem protagonismo na contribuição e criação de uma matriz mais sustentável e econômica. A energia distribuída, combinada com a energia solar tem permitido que as pessoas físicas e o pequeno consumidor possam contribuir com a matriz elétrica, reduzindo despesas com uma fonte mais competitiva, segundo o conselheiro.
“O Brasil é um país que tem um potencial de crescimento muito grande e a energia será um insumo fundamental para apoiar esse crescimento, esse desenvolvimento econômico que o Brasil tanto precisa. Então, a ampliação da disponibilidade de energia, sobretudo através de fontes renováveis, têm um papel crucial e ter esse crescimento por fontes renováveis, como a solar, é estratégico para o desenvolvimento do país”, comenta Takata.
Uma Itaipu nos telhados
A geração distribuída com energia solar, inclusive, ultrapassou a marca de 14 GW de potência instalada em residências, comércios, produtores rurais e prédios públicos. Essa capacidade já é maior do que a da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do país.
Atualmente, o Brasil tem mais de 1,3 milhão de sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede, trazendo economia e sustentabilidade ambiental para mais de 1,7 milhão de unidades consumidoras. Desde 2012, foram mais de R$ 76,7 bilhões em novos investimentos, que geraram mais de 420 mil empregos acumulados no período
A “inflação energética”
Algumas das matrizes energéticas encaram uma crise, que pode ser conhecida como inflação energética Entre os fatores que evidenciam essa crise está o aumento constante nas faturas de energia elétrica e a crise hídrica vivida pela diminuição da quantidade de chuvas. Um documento produzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta que a previsão de aumento nas tarifas na energia elétrica é de 21,04% para 2022. Todos esses fatores impulsionam a energia solar fotovoltaica como uma fonte energética atrativa.
“Traz efetivamente um custo de energia mais baixo para o consumidor, mais competitivo para o consumidor, em termos de valor monetário. E contribui para uma diversificação da matriz energética no Brasil. Talvez o consumidor não perceba tanto a relevância disso. Mas, embora sejam muito positivas por serem fontes renováveis, é bom reduzir a grande concentração e dependência de fontes hidrelétricas. Ampliar a relevância de diferentes pontos de energia é um elemento muito importante para a segurança energética do país”, conclui Takata.
Texto publicado originalmente em Revista EXAME
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