A cada eleição, temas com grande apelo público são usados como causa política comum no discurso de campanha. Defesa dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, a repavimentação de trecho da BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO), proteção da floresta amazônica, turismo sustentável dominam as promessas em palanque. A venda da Reman (Refinaria de Manaus Isaac Sabbá) é a nova ‘bandeira’ dos candidatos a governador do Amazonas.
O doutor e professor em sociologia Marcelo Seráfico, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), diz que o eleitorado deve estar atento para identificar se as propostas dos candidatos beneficiam a maioria da população. Seráfico orienta que o eleitor deve cobrar esclarecimentos sobre como as promessas serão tornadas ações práticas para melhorar as condições de vida.
Para o sociólogo, pôr as promessas em prática envolve compromisso social e econômico com a população, como a pavimentação da BR-319. Os candidatos têm de indicar quem será beneficiado e quais os problemas que essa obra poderá trazer para outros setores da sociedade.
“Não são respostas simples. Daí envolverem, necessariamente, um amplo debate público ao invés de conchavos de gabinete e decisões tecnocráticas. Daí ser necessário cobrar dos candidatos e candidatas explicação sobre como suas propostas resultarão na melhoria das condições de vida das pessoas. Afinal, o que eles entendem por ‘melhoria das condições de vida’? Como a pavimentação da BR 319, a manutenção dos incentivos fiscais da ZFM etc. podem contribuir para essa melhoria?”.
O sociólogo também aconselha o eleitor a buscar saber quem o candidato representa, de qual área da sociedade vem, de quem recebe apoio, pois sua atuação poderá ser direcionada a atender esses grupos.
Seráfico cita que candidatos da área empresarial, por exemplo, apostam em propostas que os beneficiem na geração de riqueza, mas não abordam temas de cunho social como desemprego e fome, direcionando essas responsabilidades apenas para os governos federal, estadual e municipal.
“É de se esperar, portanto, que candidatos sérios indiquem como veem o papel do Estado e do mercado não na produção de riqueza, mas sim em sua distribuição, pois essa é a única forma de combater a infame situação da desigualdade no país”, afirma.
“Lenga-lenga”
O economista Wallace Meirelles, formado em Economia pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), analisa que o Amazonas precisa de soluções para problemas estruturais, mas os candidatos focam apenas em promessas conjunturais. Ele aponta como exemplo as grandes dimensões territoriais do estado, com poucas alternativas para integração entre os municípios, dificuldade que impossibilita o desenvolvimento econômico de municípios com a interiorização da Zona Franca.
“O gigantismo do Amazonas é uma questão estrutural que deve ser levada em consideração porque nossa infraestrutura é péssima. O termo é esse aí, e nossa logística continua no século 19 para o século 20. Está muito atrasada, muito deformada. Então, a população local, que já é pobre, sofre ainda mais por essas deficiências estruturais”, diz.
A falta de solução para a BR-319, que impede a interligação do estado com o restante do país, é outro problema para o economista. A rodovia, com muitos impedimentos para ser pavimentada por conta de licenças ambientais, possui poucas soluções apresentadas por governantes e candidatos para superar essas barreiras, apenas promessas rasas.
Meirelles destaca a Zona Franca, afirma que sem ela o estado se tornaria “nanico economicamente”, mas é necessário apontar alternativas. Contudo, para o economista, existe muito “lenga-lenga” nas propostas dos candidatos e algumas que até parecem “reinventar a roda”.
“Os candidatos daqui, infelizmente, sai um e entra outro e todos falam a mesma coisa, a mesma linguagem, as mesmas propostas, o mesmo lenga-lenga. As vezes vejo esses candidatos descobrindo a roda. Apresentam grandes soluções e na verdade estão redescobrindo a roda, porque são coisas pequenas. Fala-se na produção, mas esquece que sem um processo de logística, de transporte, essa produção do interior não chega a Manaus ou não vai para outros cantos e não consegue crescer”, avalia Wallace Meirelles.
Consciência política pelo eleitor
O cientista político, sociólogo e advogado Carlos Santiago, presidente do Comitê de Combate à Corrupção no Amazonas, diz que o estado há muito tempo possui problemas crônicos e que são resultantes da falta de iniciativa e pela incompetência dos governantes, como a insegurança jurídica da ZFM e a falta de alternativa de desenvolvimento econômico e social.
Carlos Santiago cita a precariedade de estradas, aumento da criminalidade e falta de ética na política. Ele diz que o eleitor deve participar do processo político para escolher candidatos que demonstrem maior capacidade para enfrentar esses problemas.
“O eleitor deve ficar atento para cobrar no período eleitoral e pós-período eleitoral, dos eleitos, soluções para resolver esses problemas, mas para isso o eleitor tem de participar ativamente do processo eleitoral, exigindo propostas, ideias. Exigindo o cumprimento de promessas, cobrando responsabilidades e no dia das eleições votar de forma consciente”, orienta.
Alerta
O advogado e cientista político Helso do Carmo Ribeiro alerta o eleitor a procurar entender o papel de cada um dos candidatos, pois é comum em época de campanha candidatos a cargos de parlamentar, como deputado federal e estadual, fazerem promessas que só poderão ser cumpridas pelo presidente ou governador.
“A população tem de atentar que muitas vezes candidatos a deputado estadual e federal fazem promessas que não são de competência deles: é competência do presidente, é competência do governador. O mesmo ocorre com os outros cargos, todo mundo ali com um querendo se intrometer na função alheia. Em todas as eleições, isso sem exceção, os candidatos a deputado estadual e federal querem sair com propostas como se fossem deles”, diz.
O conselho dos analistas é que o eleitor busque conhecer a atuação do candidato que pretende entrar na vida pública, e até mesmo dos que já estão na política, para avaliar resultados. A partir daí, terá mais discernimento para decidir o voto e escolher quem realmente tem propostas concretas de ações para ampliar direitos civis e melhorar as oportunidades de uma vida melhor, ou só está aproveitando a ocasião para obter uma carreira pessoal na política.
Fonte: Amazonas Atual
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