Dom Leonardo denuncia sem elevar a voz, com a mesma ternura com que prega a paz. Em entrevista recente, por ocasião das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ele denunciou o aumento da violência contra os povos indígenas na Amazônia, em particular, na região de Roraima, e afirmou que a falta de ação do poder público, no sentido de punir os invasores, aumenta a violência contra os povos da floresta.
A igreja católica de Manaus deveria estar radiante com o Consistório realizado neste sábado (27), em que o papa Francisco criou 20 novos cardeais. Um desses cardeais é dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, agora chamado de “o cardeal da Amazônia”. Não houve grande mobilização dos católicos para comemorar a nova missão de dom Leonardo.
Aliás, a igreja católica de Manaus, com exceções de fiéis e religiosos isolados, não tem dado a atenção merecida à voz de dom Leonardo Steiner. Isso ocorre, porque a igreja ao longo dos últimos anos se distanciou da evangelização para a liberdade. O corpo da igreja, animada por sacerdotes e bispos que olham apenas para o céu e ignoram a vida terrena, sofrida, diga-se, para uma grande parcela das pessoas, abandonou aquele olhar misericordioso do passado, quando o Brasil vivia mergulhado na violência da ditadura militar.
Dom Leonardo Steiner, ao contrário, recupera esse olhar cristão, e denuncia as injustiças. A igreja católica na Amazônia ganhou um pastor dedicado, com olhar mais humano e que usa o poder da fala e do lugar de destaque que ocupa em favor dos mais necessitados, dos que não dispõem de meios para se expressar.
O cardeal da Amazônia é uma voz dissonante em favor dos povos indígenas, da preservação da floresta, contra o crime organizado que explora ilegalmente as terras dos povos originários, invade rios e lagos para a prática da pesca predatória.
Dom Leonardo denuncia sem elevar a voz, com a mesma ternura com que prega a paz. Em entrevista recente, por ocasião das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ele denunciou o aumento da violência contra os povos indígenas na Amazônia, em particular, na região de Roraima, e afirmou que a falta de ação do poder público, no sentido de punir os invasores, aumenta a violência contra os povos da floresta.
No entanto, adverte: “Não é que a nossa sociedade deva se reger pela punição. A nossa sociedade deveria se reger pela fraternidade, e nós pregamos isso e insistimos nisso”. No entanto, ele diz: “Mas quando não existe respeito, quando existe a ganância, quanto existe a destruição dos povos indígenas, há necessidade de a lei agir, de a justiça agir. Eu penso que aqui está faltando fiscalização e mesmo punição”.
Dom Leonardo tem um olhar amplo sobre a sociedade e enxerga não apenas os problemas que afetam os povos da floresta, mas também as famílias nas cidades, principalmente os mais pobres.
Em suas falas aos meios de comunicação e em suas pregações, ele tem denunciado a situação precária do atendimento de saúde, o pouco apreço das autoridades pelo SUS. Alerta que no Brasil há muita pobreza que não se vê, muita injustiça escondida, que precisam ser mostradas e combatidas.
Dom Leonardo não se intimida quando é questionado sobre os problemas sociais e políticos. Falar de política para ele é uma missão cristã. E ele tem denunciado e cobrado tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo e o Judiciário.
“O rosto da Justiça é muito importante para o equilíbrio da sociedade. Como é importante o Legislativo, o Judiciário é importante para o equilíbrio da sociedade, como é importante garantir a vida e o direito de todas as pessoas”, disse. E insiste que a Justiça deve existir para promover a justiça, que significa a promoção da vida.
Dom Leonardo, seguindo os passos do seu antecessor na Arquidiocese de Manaus, se tornou membro do Comitê Amazonense de Combate a Corrupção, e tem chamado a atenção de todos, cristãos ou não, para observar os candidatos e fazer uma escolha acertada nas eleições que se aproximam.
Ele lembra que a CNBB tem incentivado leigos a participarem da política e a serem candidatos, mas a igreja não pede voto para este ou aquele candidato porque é católico. “Nós não queremos garantir [no Congresso Nacional] uma bancada católica, nós queremos garantir uma bancada que seja ética e esteja interessada no Brasil, que tenha preocupação com os pobres e que esteja interessada em dar um outro rosto ao Brasil”.
Esse rosto que dom Leonardo imagina significa mais igualdade entre as pessoas. Ele cita a cidade de Manaus que tem uma riqueza imensa, mas essa riqueza está concentrada nas mãos de uns poucos, enquanto nas periferias muitas famílias estão passando fome.
Por fim, dom Leonardo se mostra não apenas um religioso fervoroso, mas um homem que vive sob o manto da ética. Ele considera que “a ética é que rege as relações sociais; é ela que dá força e vigor à educação, que sustenta a justiça e que conduz os caminhos da fraternidade”.
São tantos os ensinamentos de dom Leonardo Steiner que não é pedir muito aos fiéis católicos: “ouvi o que ele diz”. É uma voz que precisa ser escutada e suas ideias precisam ser difundidas, porque o cardeal da Amazônia é um homem essencialmente cristão.
Fonte: Amazonas Atual
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