A leniência do governo federal no combate a ilegalidades ambientais e na proteção dos Direitos dos Povos Indígenas tem se refletido nos números da violência armada no interior do Brasil. Isso é especialmente marcante no caso da Amazônia, região que se tornou epicentro de disputas e conflitos fundiários no país, com um aumento expressivo no número de ameaças, agressões e assassinatos nos últimos anos.
A Folha destacou dados da Comissão Pastoral da Terra que apontam para um aumento de mais de 11% no número de conflitos no campo nos últimos três anos, somando 4.214 episódios, com um total de 109 mortes. Só no ano passado, a Amazônia registrou 29 dos 35 casos de homicídio relacionados a disputas fundiárias de todo o país.
A situação certamente ficará mais difícil se projetos recentes promovidos pelo governo Bolsonaro, como a mineração em Terras Indígenas e obras de infraestrutura viária, como a pavimentação da BR-319, saírem do papel. “Piorou muito com Bolsonaro. Sumiu mais gente. E as pessoas estão mais armadas, pensam que podem fazer tudo”, lamentou Francisco Amaral, que vive na região da BR-319 e está há cinco anos sem notícias de sua esposa, desaparecida depois de uma abordagem feita por fazendeiros e grileiros. “Não ocorreu nada. Ficou no esquecimento. Nenhum dos três [desaparecidos] é estrangeiro, são simples brasileiros. Quando é internacional, descobrem rapidamente”.
Por falar em violência, a falta de fiscalização e de presença das forças de segurança e defesa na Amazônia está tornando a floresta um esconderijo perfeito para facções do crime organizado brasileiro. Uma reportagem investigativa de Aramis Castro, Fabiano Maisonnave e Nelly Luna Amâncio no site Ojo Público revelou que pelo menos quatro líderes de um grupo criminoso do Rio de Janeiro estão do lado peruano da fronteira, na região de Ucayali. A presença dos criminosos tornou essa área uma rota do tráfico internacional de drogas e de madeira extraída de Terras Indígenas, resultando em conflitos com Comunidades Tradicionais Indígenas.
Em tempo: Cercados pela grilagem e pelo garimpo, os Povos Indígenas também enfrentam o impacto da mudança do clima na Amazônia. O tempo mais seco e quente prejudica seus costumes milenares, com dificuldades adicionais para a agricultura familiar, a caça e o extrativismo em geral. Para ajudá-los a se preparar para os efeitos do clima extremo, uma iniciativa do IPAM e do Conselho Indígena de Roraima (CIR) está oferecendo capacitações e treinamento para que as Comunidades Indígenas possam utilizar a tecnologia em seu favor, como aplicativos de smartphone e drones. Eduardo Geraque deu mais detalhes no Estadão.
Texto publicado originalmente em Clima INFO
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