Desmatamento e mudança climática
Os candidatos à Presidência da República têm sinalizado uma preocupação maior com o meio ambiente e a mudança do clima na campanha eleitoral. Até mesmo Jair Bolsonaro, que possui uma ficha corrida indigesta (para dizer o mínimo) no tema, tem prometido mais ação contra o desmatamento da Amazônia e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Por sua vez, os principais adversários do atual presidente – o ex-presidente Lula, o ex-ministro Ciro Gomes e a senadora Simone Tebet – aproveitam o descaso do governo federal nesse tema para deitar e rolar com críticas e promessas de mais atenção e cuidado.
Tebet, por exemplo, tem prometido zerar o desmatamento ilegal na Amazônia nos próximos quatro anos caso seja eleita. “Nós devolveremos os órgãos de fiscalização e controle. Dando não só efetivo, mas condições para eles fazerem o dever de casa”, disse a candidata do MDB em visita a Belém (PA) na 6ª feira (2/9). CBN, CNN Brasil e Correio Braziliense destacaram a fala da senadora.
No mesmo dia e na mesma cidade, Lula participou de conversas com representantes da sociedade civil e dos Povos Indígenas Amazônicos, com um tom também parecido. “Quero dizer a vocês que a boiada não vai passar mais. Temos que criar na sociedade brasileira a consciência de que a manutenção da floresta em pé é mais saudável, é mais rentável, do que tentar derrubar árvore para plantar soja, plantar milho, para cortar cana e para criar gado”, afirmou o candidato do PT. Lula também prometeu criar um ministério voltado às políticas indigenistas, além de promover uma maior participação dos Povos Indígenas dentro do governo federal. A fala teve repercussão em veículos como Agência Brasil, CNN Brasil e Correio Braziliense.
Entretanto, os candidatos não oferecem detalhes sobre as promessas ambientais em seus planos de governo. “Alguns temas são abordados superficialmente como se fosse ‘olha, eu mencionei isso, eu me preocupo com isso’”, comentou o professor Pedro Luiz Côrtes, da Universidade de São Paulo, ao Jornal da USP. “Mas eles não avançam em estratégias, mesmo que seja uma sinalização rápida das estratégias que serão utilizadas. Fica uma decepção a respeito da abordagem dessas principais candidaturas em relação a temas ambientais, alguns avanços em relação ao que vimos na eleição presidencial anterior, mas ainda fica muito a desejar”.
Na mesma linha, Oscar Valporto publicou no Projeto Colabora uma análise sobre os programas de governo dos quatro principais presidenciáveis na área de mudança do clima. Apesar de todos tratarem de meio ambiente e Amazônia, ainda que de forma geral, poucos citam a crise climática e a necessidade de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar o Brasil ao clima mais extremo – e nenhum deles oferece detalhes das ações.
Em tempo 1: Como usual, Bolsonaro usou dados distorcidos sobre o desmatamento na Amazônia em uma entrevista a um veículo chapa-branca de comunicação. Nela, o candidato à reeleição pelo PL comparou o total desmatado nos três primeiros anos de seu governo com o registrado no mesmo período do primeiro mandato de Lula, dizendo que o desmatamento no governo petista foi o dobro do atual.
Como o UOL esclareceu, o dado em si está correto, mas ignora um aspecto crucial: a taxa de desmatamento herdada por Lula em 2003 foi quase o triplo daquela encontrada por Bolsonaro em 2019 – ou seja, o atual presidente começou sua trajetória em um patamar prévio muito inferior ao experimentado pelo ex-presidente petista nos anos 2000. Lembrando que, depois de chegar ao pior patamar absoluto da história, em 2004, as taxas de desmatamento iniciaram uma forte trajetória de queda a partir de 2005, o que seguiu até 2012.
Em tempo 2: Criticada por ambientalistas, a reconstrução da BR-319 no sul do Amazonas não é vista como um “tema proibido” em um eventual governo Lula. “É plenamente possível você trabalhar corretamente a questão climática, trabalhar corretamente a questão ambiental e você dar a segurança necessária para que possa fazer boas estradas que possam interligar o estado do Amazonas com o restante do país”, disse o candidato petista, citado por ((o)) eco.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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