O mercado voluntário de carbono viu seus preços crescerem no ano passado, elevando a expectativa de empresas e outras organizações de captar recursos em projetos que reduzam ou evitam emissões, ou ainda que removam CO2 da atmosfera.
A percepção de que a COP26 destravou os mecanismos previstos no Acordo de Paris e os muitos anúncios de pactos e acordos para enfrentar a mudança climática ajudaram a elevar ainda mais as expectativas.
Por aqui, muito se fala que os créditos de carbono ajudarão a proteger nossas florestas. A Folha traz uma matéria sobre proteção e recuperação da Mata Atlântica. Clóvis Borges, da SPVS, fala que está sendo procurado por empresas que querem compensar suas emissões ajudando a organização a cuidar de reservas florestais.
Luís Fernando Guedes Pinto, da SOS Mata Atlântica, diz que é natural as empresas quererem neutralizar suas emissões na proximidade dos seus negócios, dos seus clientes. Isso realmente está acontecendo em uma velocidade maior”.
Os projetos de carbono envolvendo a proteção de florestas são a grande vitrine de empresas que prestam serviços de carbono. Um artigo na Carta Capital cita o diretor da Ecosystem Marketplace, que acompanha a evolução do mercado de carbono florestal, dizendo que a tendência é de um aumento significativo da demanda e, portanto, do preço. Os números para o Brasil sugerem que o país poderia captar quase US$ 100 bilhões em 2030, podendo representar quase 40% do mercado.
Existem dois problemas com esses números e expectativas. Em relação à demanda, parte importante desta viria das petroleiras que, para prolongar seus produtos fósseis, passariam a compensar as emissões vindas da sua queima por meio da compra de créditos de carbono. O problema é que precisamos reduzir drasticamente as emissões, e não há lugar para combustíveis fósseis nesse cenário.
O segundo diz respeito às florestas. Aquilo que é obrigatório por lei não tem direito a créditos de carbono, e o Código Florestal é bem claro quanto à área a ser preservada ou recuperada. As áreas protegidas por lei, também não poderiam gerar créditos de carbono. Há sempre quem tenha interesse em “esquecer” dessa restrição para ganhar mais algum.
Em tempo 1: A navegação internacional também é vista como um potencial comprador de créditos, posto que os combustíveis alternativos aos pesados óleos queimados atualmente em navios ainda são muito caros. Enquanto os créditos de carbono estiverem baratos, a transição não ocorrerá. Um artigo na Quartz, estima que o preço do crédito precisaria passar de US$ 200 para navios mudarem de combustível.
Em tempo 2: Os mercados regulados de carbono, como o europeu e, mais recentemente o chinês, transacionam permissões de emissão. Isso funciona bem com os setores de energia e da indústria. Incluir a criação de gado e outros ruminantes em um mercado regulado nunca deu muito certo. Há quem entenda que seria mais eficiente aplicar um imposto sobre as suas emissões. O INET, um think-tank econômico associado à Universidade de Oxford, produziu um estudo sobre o custo social da carne e sobre como a taxação poderia dar o sinal preço necessário para reduzir seu consumo.
Fonte: ClimaInfo
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