Deixo esta reflexão para aqueles que vivem, empreendem ou pretendem empreender na região. É necessário um respeito pelas pessoas, hábitos e culturas. É necessário um respeito pela flora e pela fauna, pelos rios e pelas florestas. É necessária uma compreensão das dimensões. Sem estes cuidados, seguiremos a repetir uma história que é desconhecida pela maioria.
Qual a história facilmente aceita sobre a Amazônia: uma região isolada? Uma região abandonada? Uma região cheia de pobres? Uma região sem passado? Uma região com povos tradicionais? Uma região que não foi descoberta? Uma região de riquezas? Em geral as histórias que o Brasil compartilha sobre a Amazônia começam ignorando que há pessoas e há histórias. É como se os brasileiros fossem um Novo Cabral, que em suas naus chegarão na Amazônia, para descobri-la, ocupá-la e espoliá-la. Não há um encontro de povos de um mesmo país com interesses de ganhos mútuos. Há um invasor querendo retirar recursos.
Estes sentimentos por quem não é da Amazônia é sempre presente nos discursos. “Vamos preservar para uso futuro”, “vamos aproveitar as riquezas”, “vamos levar o desenvolvimento” (que é um disfarce para um “vou lhe catequizar”, do passado, ou um “vou ensinar o empreendedorismo”, do presente). Predomina um ar de império colonizador e não de irmãos em busca de soluções para uma oportunidade em comum. Como todo o povo invadido, resta a oposição e a busca de proteção de seus valores e culturas. Como todo invasor, aflora sempre o desrespeito.
Talvez a falta de respeito com a Amazônia esteja muito vinculada com esta aniquilação temperada pelo descuido. A falta de reflexão sobre estes aspectos culturais, quando se trata de desenvolvimento econômico da Amazônia, tem construído projetos fracassados e uma estrada de destruição. Até quando? Até o momento em que o respeito mútuo surja. O papel de abrir esta porta é “dos invasores”. A história demonstra isso. Entretanto, o hábito de invasão está muito arraigado nas elites econômicas nacionais, por motivos que não cabem por aqui. Uma alternativa seria a altivez local, em um “tomar posse”, mas as guerras históricas implantaram o medo no inconsciente coletivo. A falta de capital local também elimina as fagulhas de oportunidades, por um caminho que poderia ser alternativo.
Deixo esta reflexão para aqueles que vivem, empreendem ou pretendem empreender na região. É necessário um respeito pelas pessoas, hábitos e culturas. É necessário um respeito pela flora e pela fauna, pelos rios e pelas florestas. É necessária uma compreensão das dimensões. Sem estes cuidados, seguiremos a repetir uma história que é desconhecida pela maioria. A única verdade compartilhada é: não acredite no invasor, pois ele não merece confiança. E isso estará sempre fora dos discursos, mas nas atitudes, pela simples necessidade de sobrevivência e o repúdio pela subserviência, típico de quem possui autorrespeito e valores para zelar.
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