Empreender na Amazônia exige que façamos o certo e, mais do que isso, é essencial trabalhar assentados na verdade de suas fragilidades ambientais e potencialidades econômicas. […] Na Amazônia, além de produzir veículos de duas rodas – que fazem bem como ninguém ao país – é muito gratificante empreender na construção da economia sempre alerta para a ecologia.
Por Paulo Takeuchi
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Decididamente o Decreto 11.047/22, de 15/04/2022, do Ministério da Economia, conseguiu desestabilizar atores e humores do setor produtivo do Amazonas. Considerando que este segmento responde por 85% da movimentação da economia do Estado, como fica a atividade econômica em toda a região se for consumado o propósito de remoção do Polo Industrial de Manaus? Para quem vive da pesca artesanal, para dar um exemplo, principal fonte de sustento alimentar da Amazônia, a desestruturação da economia representa um golpe fatal. “A quem venderia meu peixe se as pessoas não têm emprego nem dinheiro?” pergunta um líder dos trabalhadores deste segmento.
O tal decreto não cumpre o que foi combinado com a representação popular do Estado, o governador, e das empresas, as entidades de classe da indústria. E deixa a maioria de trabalhadores e investidores em polvorosa. Mais do que compreensível. Um problema de cunho político que compete a nossos representantes do parlamento cuidar. Todo apoio, é claro, a esses representantes, merecedores de nossa confiança e apreço. Se todos fizerem sua parte, teremos em vez de revolta, mais lutas, embates permanentes tanto pelos direitos como pelo respeito a quem produz.
E aí, até segunda ordem, vamos seguir fazendo o que sabemos: gerar empregos e riqueza, sem distúrbios nem prejuízos, obviamente, que permitam atender as demandas sociais e, no caso do Amazonas, ajudar a proteger a floresta, atribuição que tem colocado a reputação do país em maus lençóis
Esta reflexão foi inspirada na num provérbio oriental, “Se não é certo, não faça, se não é verdade, não diga”. Um dos valores aqui expresso nesta manifestação filosófica é a transparência de atitudes e de manifestação, especialmente quando se trata do interesse público. Ao entrar em ação, portanto, cada um dos atores precisa fazer bem sua tarefa e avançar no conhecimento e em seus benefícios em todas as direções, incluindo a política, a arte de assegurar, acima de tudo, o bem-estar dos cidadãos e suas famílias.
A ninguém é dado o direito de remover postos de trabalho. Isso está errado, pois os empregos representam um legado de luta, sobrevivência digna e a construção de uma sociedade equilibrada. Neste contexto se destaca a importância, a propósito, do setor de Duas Rodas da ZFM (Zona Franca de Manaus) oferecer mais de 17.000 postos de trabalho diretos na Amazônia, ironicamente a região mais rica do planeta em recursos naturais e onde perduram mais de 20% dos municípios mais pobres do país em termos de IDH?
E para gerar essa massa generosa de empregos, cumpre-nos reafirmar que não há um só centavo público em nossas operações. Pelo contrário. Apenas impostos e contribuições que representam transferir 75% da riqueza gerada pelas empresas para o setor público. Segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para cada Real de compensação fiscal que a Receita deixa de recolher, R$1,40 é devolvido diretamente ao contribuinte. Essa compensação fiscal se refere a uma acertada política industrial do Estado Brasileiro – que é diferente da governança federal – para atrair os investimentos que trouxemos para a Amazônia.
Quantos empregos foram produzidos para a frota de bicicletas do Brasil que é de 70 milhões de unidades, fazendo do país o 4º maior produtor mundial deste veículo. Para milhões de brasileiros, é o primeiro e único veículo, o mais barato para comprar e consertar. Ambientalmente o mais saudável e individualmente o mais recomendado ao bom funcionamento do organismo humano. Uma verdadeira academia de ginástica da saúde e da longevidade em movimento. Poucas indústrias agregam tantos ganhos aos brasileiros e ao meio ambiente.
E as motocicletas não ficam atrás no ranking de benefícios. O que seria das famílias em isolamento social da pandemia sem os entregadores de tudo que é possível transportar, recebido no conforto e segurança do lar? Quantos milhões de empregos… Nossas motocicletas, com baixíssimo consumo de biocombustível, são o transporte da hora no caos do trânsito urbano em que se transformaram as cidades. São 30 milhões de unidades, 1,2 milhão a cada ano, o que nos faz o 7º maior produtor mundial. E se as bikes elétricas são destaque na preferência do público, as motocicletas elétricas estão chegando ao mercado mais rápido do que se supunha. Tudo isso merece aplausos, jamais retaliação.
Não há, portanto, o menor sentido na desconstrução do Polo Industrial de Manaus, o maior acerto fiscal da História da República na redução das injustas desigualdades regionais do país. Este equívoco – que haveremos de superar e transformar em motivos inadiáveis de integração nacional – deve nos tornar cada vez mais unidos, fortalecidos e imbatíveis. Assim, aliançados e combativos, podemos oferecer ao Brasil miríades de vantagens de produzir na floresta. Empreender na Amazônia exige que façamos o certo e, mais do que isso, é essencial trabalhar assentados na verdade de suas fragilidades ambientais e potencialidades econômicas. Quaisquer gestos de duplo sentido ou que abafem ilícitos jamais ficarão ocultos e serão julgados pelo tribunal do clima e da história. Na Amazônia, além de produzir veículos de duas rodas – que fazem bem como ninguém ao país – é muito gratificante empreender na construção da economia sempre alerta para a ecologia. Razões não nos faltam: proteger a cobertura vegetal da Amazônia, que transforma em árvores a captação dos resíduos da civilização predatória e, em rios voadores, o resultado da evapotranspiração dessas mesmas árvores pelas quais quem nos tornamos, voluntariamente, responsáveis. Viva a Amazônia e seu direito certo e verdadeiro de empreender na direção de sua floresta em pé, a favor da dignidade e da brasilidade que aqui borbulha.
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