Por Augusto Rocha
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Uma das frases mais repetidas nos ambientes acadêmicos para diagnosticar a situação de penúria em que vivemos na maior parte da Amazônia é que “falta planejamento”. Entretanto, conforme os estudos vão sendo aprofundados, os pesquisadores começam a perceber que existem planos de todo o tipo para a região. Ao contrário do senso comum, há planejamentos em excesso e o problema é outro: eles não são executados, muito menos medidos em sua eficácia ou revisados. Conclusão: o que falta é interesse.
Como quem não mede, não administra e quem não revisita e nem revisa seus planos transforma estas intenções em um esforço inútil, o que se percebe é que nada se faz, pois os planos são feitos para seguir protocolos, mas não para um interesse verdadeiro de realizá-los. Assim, há planos para hidrovias, planos para a biotecnologia, planos para combater queimadas e assim por diante. Todos sem recursos para execução. Os projetos que acontecem são tipicamente isolados de outros esforços e se encerram em si. Outros poucos que começam a dar certo passam a ser sistematicamente atacados (vide a questão da preservação ambiental, biotecnologia ou da Zona Franca de Manaus).
A complexidade da região é grande e a construção de pequenas histórias de sucesso já é uma vitória. Entender isso é difícil e alocar recursos de uma forma sistemática e coordenada é um esforço que precisará ser feito em algum momento, para modificar a realidade da região em seu baixo desenvolvimento humano. Mais do que o problema facilmente observável de ausência de planejamento e de execução, há o maior de todos: há uma falta de interesse em fazer algo.
A grande necessidade da Amazônia é de interessados nela. Quem olha de fora percebe que é uma região complexa e desafiante. Com isso, é melhor falar superficialidades, sem colocar os pés nas problemáticas da região, debatendo apenas entre os “de fora” ou os que estiveram aqui anos atrás após admirar algumas fotos na Internet.
A quase totalidade dos que vivem por aqui prefere não adentrar nos problemas reais, por medo de se perder nas complexidades ou por ter consciência de sua impotência frente ao tamanho do problema. Os que ignoram tudo isso, terminam colocando de lado suas potencialidades e, enquanto ignoramos tudo ou nos perdemos com pequenos detalhes, vamos nos afastando da enorme oportunidade que é o seu conjunto e não as suas partes isoladas.
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