Ex-superintendente foi exonerado após denunciar que presidente do Ibama o pressionou para liberar uma mineradora de embargo. Em seu lugar, entra um consultor ambiental
O governo nomeou nesta quarta-feira (30) o engenheiro florestal Rafael Angelo Juliano para o cargo de superintendente do Ibama no Pará. Juliano assume a vaga do ex-policial militar Washington Luís Rodrigues, exonerado na semana anterior, quatro dias após revelar que o presidente do Ibama, Eduardo Bim, pressionou-o a liberar os embargos do órgão ambiental contra uma mineradora.
Rafael Angelo Juliano trabalha com processos de licenciamento e possui uma empresa de consultoria ambiental, a Amazônia Serviços Rurais. De acordo com uma fonte ouvida por ((o))eco, o clima entre os servidores é de “revolta”. “Ele trabalha com as empresas, do outro lado do balcão, e agora vai ter acesso a todos os processos e informações sigilosas”, protesta um servidor ouvido por nossa reportagem.
Especula-se nos bastidores que o nome de Juliano teria sido indicado pelo senador Zequinha Marinho (PL-PA), parlamentar conhecido por defender madeireiros e grileiros.
A polêmica sobre a nomeação do consultor ambiental vem somar desconfianças ao retrospecto conturbado da Superintendência do Ibama no Pará (Supes-PA). Seu antecessor, o Policial Militar do Estado de São Paulo, Washington Luís Rodrigues, saiu do cargo mediante o escândalo da intervenção de Eduardo Bim em prol de uma mineradora.
A denúncia foi feita em reportagem de Hyury Potter para o The Intercept Brasil, publicada no dia 26 de março. A empresa Gana Gold teria extraído mais de R$1 bilhão em ouro da Área de Proteção Ambiental do Tapajós, no Pará, com licença ambiental irregular. A mineradora foi embargada pelo Ibama no dia 9 de setembro de 2021, durante a operação Gold Rush, da Polícia Federal.
Conforme apurado pela reportagem do Intercept, o então superintendente regional do Pará começou a receber mensagens do chefe de gabinete da presidência do Ibama, Fernando Leme, do advogado da Gana Gold, Artur Mendonça Vargas Junior, e do próprio presidente do Ibama, Eduardo Bim.
Bim teria pedido para que policial visse “rápido” a situação do processo. Em resposta, Washington avisou que o caso estava na Coordenação de Fiscalização do órgão. A réplica de Bim foi monossilábica: “pqp”. Depois, por áudio, o presidente do Ibama elaborou: “Ô Washington, dá um jeito nesse processo aí, cara, porque parece que tem uma licença estadual que foi expedida no dia do embargo. Eles [fiscais do Ibama] contestaram a licença municipal, mas mesmo que a licença municipal não valha, hoje tem a estadual, então fala pro pessoal analisar isso aí rápido”. Os áudios podem ser ouvidos em vídeo produzido pelo Intercept.
Rodrigues teria prestado depoimento voluntário na Polícia Federal em Belém, no dia 17 de novembro, ocasião em que relatou a conduta do presidente do Ibama e entregou o conteúdo das conversas aos delegados.
No dia 21 de março, a reportagem do Intercept Brasil pediu esclarecimentos ao Ibama, que citou apenas que a presidência do órgão “pediu celeridade à superintendência estadual”. Três dias depois, estava publicada a exoneração do PM.
Washington Luís foi nomeado pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em outubro de 2020.
((o))eco entrou em contato com a assessoria do Ibama para que o órgão respondesse à denúncia. Também foi solicitado o currículo do novo superintendente. Nenhuma das demandas foi respondida dentro do prazo para o fechamento desta edição.
Atualização:
A Assessoria de Comunicação do Ibama respondeu, em nota, que Rafael Angelo Juliano foi indicado “foi indicado com base em critérios técnicos”. Sobre o currículo, a nota acrescenta que “Rafael Angelo Juliano é engenheiro florestal pela Universidade de Viçosa e possui ampla experiência na área ambiental, com especializações focadas em agropecuária, gestão em zona rural, perícia judicial, dentre outras”.
Fonte: O Eco
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