Ancestralidade, Territórios e o Feminino
Por Marizilda Cruppe, Maria Fernanda Ribeiro e Jullie Pereira, da Amazônia Real
“Chama, chama que elas vêm.” Quase como um grito de guerra, o apelo de Puyr Tembé ficou como marca registrada da 2ª Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília, de 7 a 11 de setembro de 2021, que reuniu 5 mil pessoas, de 172 povos vindos de todos os Estados do Brasil. O chamado era para a união, a participação e atender ao mote do evento de reflorestar mentes para a cura da Terra. Num Brasil governado pelo presidente Jair Bolsonaro, que legitima os ataques e invasões aos territórios indígenas, a marcha ocorreu em um contexto mais agressivo do que a primeira edição, realizada em 2019.
O apelo de Puyr Tembé virou meme, incentivo, locução de programas de rádio e se tornou um chamado impossível de recusar. O “chama, chama que elas vêm” retumbava por todo o acampamento do complexo da Fundação Nacional de Artes (Funarte), onde as indígenas acamparam. Se tinha alguém cansada, bastava ouvir o clamor de Puyr para se levantar e ir até a plenária.
“Isso foi coisa dos ancestrais, que me inspiraram naquele momento e eu trouxe esse chamado para a marcha. Veio na mente”, afirma Puyr. “Agora os parentes ligam pedindo para que eu faça áudio e vídeo chamando para as reuniões, para as assembleias, para eleições, para dar uma atiçada, uma temperada.”
Os protocolos sanitários foram seguidos e todas as delegações foram orientadas a priorizar a participação de pessoas que tinham o ciclo completo de imunização contra a Covid-19. O uso de máscara durante as atividades foi obrigatório, assim como a testagem na chegada e no retorno das delegações ao território, cumprindo período de quarentena.
Durante a 2ª Marcha das Mulheres Indígenas, a Amazônia Real realizou um ensaio fotográfico com 92 mulheres de 55 povos das cinco regiões do país e entrevistou uma dezenas delas. A concepção do projeto e a fotografia é de Marizilda Cruppe. Em Brasília, a repórter Maria Fernanda Ribeiro auxiliou a fotojornalista na produção dos ensaios e entrevistou algumas personagens. A repórter Jullie Pereira complementou a apuração, por telefone, obtendo mais depoimentos das participantes da marcha.
Para Marizilda Cruppe, obter um registro “é uma maneira de difundir a importância do encontro de mulheres de todas as regiões do Brasil agora, no momento presente, e também de colaborar com a memória da marcha criando um documento para ser visto no futuro.”
O evento em Brasília acabou, mas as mulheres indígenas seguem em marcha em busca da garantia dos territórios, seja em nome das ancestrais, das anciãs ou ainda das futuras gerações. “Não usar a mesma arma do inimigo não significa que estamos desarmadas”, afirmou Célia Xakriabá, uma das coordenadoras do evento.
Fonte: Amazônia Real
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