Em minha visão sobre a nossa construção do futuro da Amazônia, precisamos integrar verdadeiramente a nossa ciência com as oportunidades de negócios. Precisamos construir cadeias produtivas adequadas aos produtos da região. Enquanto não houver atuação determinada dos governos para apoiar estas duas condições, somadas com a infraestrutura necessária, seguiremos a fazer o interesse dos outros
Por Augusto Rocha
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Semana passada fiz um texto com mais de um elogio sobre a feira ExpoAmazônia Bio&TIC, somado a uma crítica sutil. A repercussão posterior à publicação foi interessante, pois mesmo o que entendia como elogio foi percebido como crítica. Meu elogio rasgado (na minha mente) virou uma crítica (na mente de outros).
Nas histórias de minha mente, a riqueza do século XXI advém da ciência, produzida nas escolas, universidades ou empresas. Assim, nada melhor do que uma Feira de Ciências para um evento de tecnologia. Mas, parece que as histórias, que outras pessoas contam para si, afasta a ciência da riqueza. Por que será? Aproximam a riqueza do que? Alguém que vai vir aqui do exterior nos enriquecer? Não consigo acreditar nisso.
As construções de cadeias produtivas não são realizadas em universidades. Mesmo em Stanford, quando o Google começou a funcionar, seus fundadores foram expulsos do Campus, porque a rede da Universidade ficou sobrecarregada. Há muita gente que acredita entender de pesquisas, sem nunca ter feito ao menos uma. Apenas adora insultar os demais – e sem sutilezas. Há outros que entendem de negócios, sem nunca ter aberto uma empresa ou ter tido seu CPF associado a um CNPJ. Cada um constrói a sua própria história – ainda bem que temos liberdade para isso.
Em minha visão sobre a nossa construção do futuro da Amazônia, precisamos integrar verdadeiramente a nossa ciência com as oportunidades de negócios. Precisamos construir cadeias produtivas adequadas aos produtos da região. Enquanto não houver atuação determinada dos governos para apoiar estas duas condições, somadas com a infraestrutura necessária, seguiremos a fazer o interesse dos outros: produzir soja, para importar celular – são necessárias 10 toneladas para comprar um único celular. Ou extrair informações tecnológicas da floresta, ou das suas pessoas, para transferir para algum laboratório estrangeiro – e depois importar os fármacos.
Se seguirmos com os métodos de transporte e armazenagem dos séculos passados, não teremos uma mudança na forma de gerar riqueza. Enquanto ficarmos contentes pelas festas e irritados com críticas sutis, não sairemos da condição patética em que estamos: deitados eternamente em berço esplêndido, buscando ser colônia de algum estrangeiro e apoiando apenas o império que por aqui chega. Enquanto as nossas Feiras de Ciências não forem celebradas, não transcenderemos esta situação. Enquanto nossos jovens não ocuparem os espaços, seguiremos sendo servos.
Por volta de 1830, o então Ministro das Finanças do Reino Unido, William Gladstone, perguntou sobre o uso prático da eletricidade ao físico Michael Faraday (naquele momento com menos de 40 anos), ele respondeu: “só sei que um dia o senhor poderá taxá-la”. Se fosse aqui, acredito que o passo seguinte não seria o apoio, mas chamar um estrangeiro para darmos para ele esta ideia exótica. Estamos como estamos, como o resultado de tudo o que somos.
Hoje não conseguimos construir consensos nem a partir de críticas suaves e ainda lemos elogios como críticas – parece que só há espaço para o aplauso ingênuo. Há um longo caminho pela frente. Comecei a minha tarefa de acolher a crítica e escrever mais claramente, na tentativa de ajudar a construir este futuro mais próspero. Peço perdão aos que não me compreenderam – espero ter sido mais claro sobre o que precisa ser feito. Seguirei mais umas semanas refletindo sobre estes “sensos”. Quem sabe assim me redimo. Precisamos temperar nossas histórias, pois, se estivéssemos bem, tantos não passariam fome. Lembre-se disso ao adentrar seus locais de trabalho.
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