Em toda crise econômica e financeira, os governos tendem a organizar alguma forma de auxílio emergencial de renda para a população desempregada dos mercados formais ou informais de trabalho. No caso brasileiro, esse tipo de auxílio foi oportuno porque a atual crise da pandemia do coronavirus levou muitos pobres para a miséria social e muitas famílias de classe média a se empobrecerem.
Por causa da crise fiscal e financeira dos três níveis de governo, esse auxílio foi muito precário e insuficiente para evitar que a fome passasse a ser uma realidade em milhões de lares das famílias brasileiras. Essa profunda crise socioeconômica não se tornou dantesca porque o Governo Federal não interrompeu a implementação das políticas sociais compensatórias (benefícios de prestação continuada, bolsa-família, etc.) que vieram se estruturando desde a Constituição de 1988. E também porque a sociedade civil organizou várias iniciativas de doações de bens essenciais para os mais necessitados, dentro do princípio de que o pouco dos que têm muito pode significar muito para os que têm pouco.
Hyman Minsky (1919-1996), um economista norte-americano que analisou as crises do capitalismo no pós- II Grande Guerra complementando a própria obra de Keynes, notabilizou-se por prever a crise financeira global ocorrida a partir de 2008. Minsky analisou como os governos nacionais saíram das diferentes crises desde 1929, destacando as políticas de auxílio emergencial e de bem-estar social, de um lado, e as políticas de geração de emprego e renda através de investimentos públicos e privados, do outro lado.
Para ele, a justiça social se baseia na dignidade individual e na independência dos centros públicos e privados de poder político. A dignidade e a independência são mais bem atendidas por uma ordem econômica na qual a renda monetária é recebida ou por direito ou através de uma relação de troca justa. A renda de transferência governamental é um direito social que assegura a sobrevivência de famílias em situação de pobreza por meio de acesso à renda e à promoção da autonomia dessas famílias. Um direito que, no Brasil, é de natureza constitucional.
Para Minsky, a remuneração pelo trabalho realizado deveria ser a principal fonte de renda para todos. A dependência permanente de um sistema crescente de transferências de pagamentos que não foram ganhos é humilhante para quem recebe e destrutiva do tecido social.
A justiça social e a liberdade individual exigem intervenções para criar uma economia de oportunidades na qual todos, com exceção dos deficientes e idosos, ganhem sua trajetória através de renda por trabalho. O pleno emprego é um bem econômico, assim como um bem social.
No caso brasileiro, a crise socioeconômica é particularmente dramática para os jovens de 18 a 24 anos. No final de 2020, a taxa de desemprego para esse grupo social era de 30 por cento; ou seja, de cada três jovens brasileiros um estava desempregado por falta de um campo de oportunidades para realizar os seus projetos de vida.
A política econômica do Governo Federal vive num mundo de ilusão panglossiana sem perceber que, para erradicar a pobreza econômica e a miséria social, os brasileiros precisam de mais empregos, não apenas de assistência social.
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