Conhecimento gerado pelo sequenciamento de genomas do parasito das regiões mais atingidas pela malária no mundo pode ser usado em estudos sobre vacinas e novas terapias
A malária vivax, causada pelo parasito Plasmodium vivax, é a variedade mais comum da doença fora da África, sendo responsável por 80% dos casos no Brasil. Para ela, ainda não existe vacina. Quase dois terços dos casos envolvendo a espécie se concentram em países do Sul da Ásia e parte da África Oriental, mas, apesar disso, ainda há pouca pesquisa sobre a genética do parasito nessas regiões. Para preencher tal lacuna, um estudo analisou amostras recolhidas de viajantes infectados que retornaram ao Reino Unido vindos dessas áreas endêmicas. Os resultados permitiram rastrear a ancestralidade do parasito e identificar mutações associadas a uma resistência a medicamentos que vem sendo observada.
De acordo com o professor Cláudio Marinho, um dos coordenadores do estudo e chefe do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, entender como a diversificação aconteceu e reconhecer as diferentes variedades dessa espécie de protozoário é fundamental para o desenvolvimento de vacinas e para a adequação do tratamento levando em conta as resistências que têm surgido a essas drogas.
Dados da pesquisa encontraram, por exemplo, indícios de que o P. vivax pode estar prestes a desenvolver resistência à artemisinina, fármaco mais potente contra a doença (normalmente utilizado para tratamento de infecções por P. falciparum), o que implica a necessidade da tomada de providências para evitar que as alternativas de tratamento existentes hoje se tornem ineficazes.
“Entender como a diversificação aconteceu e reconhecer as diferentes variedades dessa espécie de protozoário é fundamental para o desenvolvimento de vacinas e para a adequação do tratamento levando em conta as resistências que têm surgido a essas drogas.”
Malária na gestação
A pesquisa foi realizada em parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), na Inglaterra. O laboratório de Marinho estuda já há dez anos os efeitos da malária vivax em grávidas no Acre, também uma região endêmica, e colaborou para a pesquisa com amostras de sangue de grávidas infectadas.
Jamille Dombrowski, pós-doutoranda no laboratório, participou diretamente dos ensaios em Londres durante seu estágio de pesquisa no exterior com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no doutorado. Ela explica que o P. vivax é especialmente perigoso devido a sua capacidade de viver em estágios dormentes no fígado, que provocam reincidência da doença e cujo combate exige primaquina, um fármaco que não pode ser usado durante a gestação pelo risco de causar hemólise (destruição de células do sangue) no feto. Tais casos demandam um acompanhamento especial com prescrição de cloroquina semanalmente até o fim da gravidez.
Compreender a diversidade genética do parasito em gestantes também é de extrema importância e um dos objetivos da equipe. Este outro trabalho está em fase de conclusão e também é fruto da colaboração entre a LSHTM e o ICB. Jamille afirma estar otimista com os resultados. “O melhor entendimento sobre a genética do P. vivax nessa população de gestantes é mais uma ferramenta para que possamos combater a doença e, assim, criarmos melhores estratégias para reduzir o impacto tanto na mãe como no bebê.”
Mais informações: e-mail [email protected], com Jamille Dombrowski, ou e-mail [email protected], com Cláudio Marinho
Fonte: Jornal da USP
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