Cada vez mais países, cidades e corporações prometem zerar suas emissões líquidas – o net-zero. O grande desafio é, como diz uma matéria da Economist, “a parte líquida de zerar as emissões”. Esta parte significa remover dióxido de carbono da atmosfera, de preferência, para sempre. O leque de alternativas começa sempre pelo plantio de árvores, mas passa por fixar carbono no solo, capturar e enterrar emissões que saem das chaminés de térmicas e plantas industriais e, mais recentemente, acelerar processos naturais de fixação de carbono em rochas e outras estruturas (enhanced weathering). E é nessa arena que entram os créditos de carbono. Uma corporação teria que escolher entre abrir uma linha de negócios florestais ou pagar para alguém fazer isso, comprando créditos de carbono.
Há críticas por todo lado aos créditos de carbono. Eles são pouco transparentes. Sua integridade socioambiental pode ser frouxa. Eles não são adicionais – ou seja, a redução de emissão ou a remoção de carbono da atmosfera teria acontecido de qualquer maneira. Ao aliviar o pecado do comprador, ele é estimulado a continuar poluindo. Finalmente, o que funciona para uma corporação – pagar para alguém plantar árvores – não funciona para conter o aquecimento global em 1,5°C. O mundo precisaria plantar florestas na escala amazônica pelo menos a cada década. Não parece haver planeta suficiente para isso.
Um artigo de Stephan Smith, diretor da iniciativa net-zero da Universidade de Oxford, saiu na Nature no mês passado descrevendo de modo muito claro as dificuldades e sugerindo que limpar este ambiente exige muita transparência: explicitando as ações tomadas, os parceiros envolvidos e os riscos associados. E como a corporação pretende monitorar, reportar e, se necessário, intervir em possíveis falhas.
Em tempo: Um exemplo rico desta situação é a estratégia adotada pela aviação. A agência da ONU que regula a aviação internacional criou uma iniciativa – o CORSIA (sigla em inglês do Sistema da Aviação Internacional para Redução e Compensação de Carbono) que definiu metas de redução das emissões do setor. Para isso, apontou caminhos para desenvolver e usar de combustíveis menos emissores e quais créditos de carbono seriam aceitos para compensar o que não deu para reduzir. Um relatório encomendado pela União Europeia no ano passado veio a público na semana passada analisando a confiabilidade desses créditos de carbono. A recomendação foi curta e grossa: a Europa não deveria confiar em sistemas ineficazes, como o MDL da ONU, e deveria reintegrar todos os voos que atravessam seu território dentro das regras do seu mercado de carbono, o EU-ETS. As empresas passariam a ter metas de redução definidas pelos europeus e poderiam comprar permissões, também dentro das regras do ETS, que não aceita créditos de carbono de países como o Brasil, Índia e China. O relatório pode ser encontrado no site da Transport & Environment. O Financial Times e a Reuters comentaram o trabalho.
Fonte: ClimaInfo
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