O novo pacote de ação climática anunciado pela União Europeia coloca o bloco na dianteira – ao menos, em termos políticos – nos esforços globais para a descarbonização da economia até meados deste século. Para o Financial Times, a UE teve o mérito de elaborar o primeiro pacote de políticas públicas “à altura do desafio” da crise climática, com a ampliação da precificação do carbono para setores mais intensivos em emissões. Em termos de sinalização, os europeus se destacam como o primeiro grande ator global a apresentar propostas com potencial realista para viabilizar o net-zero até 2050. Philip Blenkinsop e Mark John seguiram esse raciocínio na Reuters, destacando que o pacote Fit for 55 pode se tornar uma referência global para iniciativas nacionais e regionais de ação climática para a próxima década.
Os investidores também receberam o plano climático europeu com otimismo. Ouvido pela Reuters, o chefe de sustentabilidade da Allianz Global Investors, Mark Wade, elogiou a ambição das metas apresentadas pela UE e o pioneirismo do bloco na agenda da descarbonização. Sob o mesmo raciocínio, Daniel Klier, ex-diretor de sustentabilidade da HSBC Holdings, disse à Bloomberg que o plano europeu “traz uma discussão que parecia muito distante para algo tangível e que vai acontecer nesta década”.
Um dos pontos de interrogação ainda é a proposta de mecanismo de ajuste de carbono na fronteira (CBAM), que visa taxar importações com base na pegada de carbono do produto nos países de origem. O NY Times ressaltou que a proposta deve enfrentar oposição significativa de parceiros comerciais da UE, como China e Estados Unidos. Já o Climate Home destacou o prazo previsto pela UE para implementação dessa taxa (cinco anos) e a corrida que indústrias e produtores estrangeiros terão que fazer para reduzir sua pegada de carbono para continuar vendendo para a Europa.
A Economist, por sua vez, observou que a proposta pode intensificar conflitos comerciais e, potencialmente, congelar a cooperação internacional para ação climática. Um dos obstáculos potenciais para a taxa de carbono de fronteira está nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Financial Times descreveu as tecnicalidades levantadas pela UE para contestar acusações de que o mecanismo possa prejudicar o livre comércio. Por fim, o Wall Street Journal sumarizou essas tensões e destacou o óbvio: a precificação do carbono é um caminho sem volta.
Em tempo: No Brasil, a recepção à taxa de carbono de fronteira na UE foi ruim, especialmente no setor siderúrgico. Citado pelo Valor, o Instituto Aço Brasil afirmou que a medida, apesar de positiva, cria uma barreira não tarifária e pode representar um impedimento às exportações de aço brasileiro para o mercado europeu. Também no Valor, Assis Moreira ressaltou que o plano da UE será mais um impulso para a indústria brasileira intensificar esforços pela descarbonização; caso contrário, o país perderá mercados importantes no exterior.
Fonte: ClimaInfo
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