“Incrédulos, inseguros e com o futuro ameaçado, pois não vivemos dentro de um plano, mas sim na valsa de uma elite que não sabe e nunca soube pensar no Brasil, nem do presente e muito menos do futuro.”
Farid Mendonça Júnior
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Já parou para imaginar o Brasil numa guerra? Sim, falo em uma guerra de verdade. Tanques, metralhadoras, fuzis, submarinos, caças, além de outros componentes essenciais, tais como uniformes, botas, entre outros.
Pensar nisso é difícil mesmo, pois o Brasil não tem lá um histórico grande de participação em guerras. Mas participamos sim, Guerra do Paraguai, Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
Para a guerra do Paraguai mandamos majoritariamente os nossos negros escravos, sob a supervisão dos generais brancos. Vivíamos na época a escravidão aqui no Brasil. Nossos negros foram pra guerra totalmente despreparados, haja vista não terem experiência prévia em combate e nem faziam parte do “exército” (esta força armada ainda não existia de forma institucionalizada), além disso, faltava de tudo. Pra resumir, jogaram os negros no campo de combate pra dar um jeito. Tínhamos números a nosso favor que somados com os números da Argentina e do Uruguai, nos ajudaram a massacrar o “desafiante” Paraguai.
Quanto à Primeira Guerra Mundial, depois que um navio foi torpedeado, o Brasil declarou Guerra à Alemanha, em 1917. Resolveu mandar uns navios de guerra em 1918, que só chegaram na Europa em novembro daquele ano. O Brasil não dispunha de grandes recursos bélicos. Ou seja, chegamos lá e a guerra já tinha terminado. De quebra, nossos bravos soldados que para lá foram e chegaram atrasados, trouxeram pra gente a gripe espanhola, que estava na “moda” na Europa naquela época.
Já na Segunda Guerra Mundial, o Brasil declarou guerra em 1942, mas nossas tropas só chegaram na Europa em julho de 1944, ou seja, atrasados. Subimos o Monte Castelo, na Itália, treinamos alguns tiros nos nazistas, ajudamos alguma coisa ali, justiça seja feita, mas a guerra já estava praticamente no fim.
Agora pensemos nisso hoje. Como seria a participação do Brasil numa guerra? Como iria se preparar? Sim, porque para se preparar pra isso tem que se planejar e saber executar, aliás isso deve ser feito pra qualquer coisa e em tempos de normalidade também.
Bem. Tomemos a seguinte hipótese. Estamos à beira da guerra e o Brasil foi levando, levando, até que chegou o dia da declaração de guerra e do confronto. Imagina. Não temos contingente suficiente, não planejamos a estratégia de ataque, estão faltando botas e metralhadoras. O governo não comprou em número suficiente. Achou que estava caro demais e preferiu esperar. Governo decide comprar de última hora e vai ter que pagar mais por isso. Os empresários e os políticos também se aproveitam da situação e muitos conseguem um comissãozinha, uns 20%, padrão brasileiro. Beleza, tudo pronto. Partiu guerra!
Por trás de todo este processo deveria haver um bom plano logístico, com planejamento e execução, fundamentado em uma boa estratégia. Assim foi a preparação para o dia 06 de junho de 1944 (o dia D), quando as forças aliadas invadiram as praias da Normandia, na França, ocupadas pelos nazistas.
Toda uma operação havia sido desenhada há meses. Evidente que houve erros, cálculos errados, atrasos, como quase tudo na vida. Mas a operação foi um estrondoso sucesso e garantiu a vitória dos aliados. Não é a toa que no dia 06 de junho, devido a este acontecimento, comemora-se o dia da logística.
Um dos grandes desafios para a preparação do dia D foi o transporte dos mais diversos suprimentos que os soldados iriam necessitar após o desembarque. Toneladas e mais toneladas de suprimentos (armas, alimentos, entre outros) transportados por meio de milhares de barcos e navios (cerca de 14.200 barcos e 600 navios) e milhares de aviões que se dirigiram até a Normandia, além dos milhares de soldados (cerca de 155 mil) e a equipe de apoio. Resultado: os aliados venceram a guerra não só com coragem, mas principalmente com uma boa logística e com planejamento e a devida execução.
Estamos agora em 2020/2021, no meio da pandemia do novo coronavirus, que de tanto encher o saco, não sei porque ainda chamam de “novo”, tá velho já.
O mundo passou os últimos 11 meses (considerando desde março de 2020) estudando esta praga e tentando desenvolver uma vacina minimamente segura e eficaz contra este vírus. Conseguimos, já temos pelo menos umas 5 ou 6 vacinas na praça. Feito inédito, ainda mais se considerarmos que uma vacina em condições normais leva no mínimo 7 anos pra ficar pronta. Portanto, grande vitória para a humanidade.
Entretanto, este feito de ter inventado a vacina não se mostra eficaz sem a vacinação em massa. Daí entra a pergunta: o que está faltando? Está faltando organização, planejamento e logística. Já fomos melhores nisso.
A China e a Índia, grandes produtoras dos insumos das vacinas, o famigerado ingrediente farmacêutico ativo (IFA), alegam que não conseguem em tão pouco espaço de tempo mobilizar seu parque industrial para atender a demanda mundial super aquecida. E os outros países? Por quê não fabricam? Por quê não montam uma operação de guerra pra viabilizar isso? Vamos ficar esperando o vírus ganhar a guerra? Por acaso ficaram esperando Hitler ganhar a guerra na década de 1940? Não. Lógico que não. A humanidade já foi melhor, já foi mais ágil, já se preparou melhor, já teve uma logística mais efetiva.
Estamos morrendo! E o Brasil, que possui uma das melhores políticas públicas do mundo, suas campanhas de vacinação rápida e abrangente devido à capilaridade do Sistema Único de Saúde – SUS, não consegue dar passos sólidos neste caminho pois ainda não possui as vacinas em número suficiente para imunizar a população em massa (pelo menos 70%).
Recente declaração do Vice Presidente Mourão afirma que até o final do ano, o Brasil vai imunizar 70% da sua população. Pasme, até o final do ano???!!! Vamos passar 2021 praticamente todo com este problema?? E isto é o que ele prevê.
O Brasil parece ter acordado para a questão da vacina em dezembro de 2020. Percebeu que tinha passado o período todo de 2020 adormecido. Não tomou as rédeas da situação, não decidiu o que fazer. Não investiu recursos suficientes em pesquisa e desenvolvimento de sua própria vacina. Não acertou contratos de compra de vacinas. Ficou esperando. Agora quer fazer igual a Guerra do Paraguai, arranja uns “negros” aí, umas vacinas aí, com o tempo a gente faz número e ganha a guerra.
Logística para distribuição de vacina? Dá-se um jeito. O avião que estiver disponível. Ohhh, cadê aquele avião que estava aqui? Parece que foi fazer um treinamento no Estados Unidos. Puxa, ele era bom pra levar oxigênio pra Manaus. Ah, uma semana não fará diferença!!!!
E assim seguimos, fazendo a boiada passar. A boiada do jeitinho, do amadorismo, da inexperiência. Jogamos nosso futuro numa bola mágica em que qualquer coisa pode ser possível.
Seguimos sem rumo, sem lenço, sem documento, sem vacina, sem planos, sem estratégias, sem logística. Sendo governados na base de decretos surpresas de última hora, antes da badalada da meia noite. Incrédulos, inseguros e com o futuro ameaçado, pois não vivemos dentro de um plano, mas sim na valsa de uma elite que não sabe e nunca soube pensar no Brasil, nem do presente e muito menos do futuro.
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