O Memorando de Entendimento com o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), do Comando do Exército, com o Cimatec Senai-BA, pode, em primeiro momento, apontar saída ao investimento em mega rede dos CTs no Sistema Senai. Em 2013, o Sistema Senai projetou investimentos de até R$ 3 bilhões (depois, revisto para menos de R$ 2 bilhões) em laboratórios novos e modernizações dos existentes.
Na época, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), projetou implantar no Senai 25 (está com 27) institutos de inovação (ISIs) e 64 (está com 60) de tecnologia (ISTs). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiaria (com reembolso) 50%. Porém, em alguns casos, chegou a 60%. VEJA AQUI
O projeto original, todavia, emperrou em institutos de vários estados. Principais motivos: concepção e detalhamento errados dos projetos e escassez de recursos. As recessões do Governo Dilma (2010-2016) e da Covid-19 foram cruéis.
Contudo, a despeito da chegada do Exército abrir uma saída, poderá também levar pano de fundo de ação política do Planalto: início de uma intervenção branca do Governo Bolsonaro em todo o Sistema S. Seria, portanto, sequência de práticas Bolsonaro. Fez isso, por exemplo, na Anvisa, Inmetro, INPE e PF. E, recentemente, nas Petrobras e Eletrobras.
Intervir no Sistema S atenderia ao desejo manifestado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, antes mesmo de assumir a pasta. RELEMBRE AQUI.
Foco na base de defesa
O Memorando de Entendimento Nº 21-DCT-001-00, com o Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia – Senai Cimatec, de Salvador (BA), é válido por 20 anos, até 11/02/2041. A parte interveniente do Exército é o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT). À unidade do Ministério da Defesa interessa o intercâmbio de conhecimento com o Senai da Bahia nos campos da ciência e tecnologia de inovação.
“A cooperação visa à transferência de conhecimento, ao apoio de instalações e de laboratórios pertencentes aos partícipes, ao apoio técnico para gerir conhecimento, ao intercâmbio de recursos técnicos e humanos e à capacitação de recursos humanos entre membros da União, representada pelo Comando do Exército (Cmdo EB), por intermédio do DCT, e o CIMATEC”. Esse um trecho da súmula do Memorando.
Prováveis implicações políticas de lado, o Exército deixa claro para onde atira: “… o desenvolvimento de ações nas áreas de interesse mútuo, relacionadas à CT&I, com o objetivo de gerar conhecimento e Produtos de Defesa (PRODE), fortalecendo a Base Industrial de Defesa (BID)”. Pelo Comando do Exército assinaram o Chefe do DCT, general de Exército Décio Luís Schons, e o coordenador do Escritório Central do SisDIA, general de Divisão Ângelo Kanakami Okamura. Pelo Cimatec o Reitor e Diretor de Tecnologia e Inovação Senai-Cimatec-BA, Leone Peter Correia da Silva Andrade, e o gerente de Defesa e Segurança Senai-Cimatec-BA, Tarso Barreto Nogueira.
Há anos, as Forças Armadas mantêm algum tipo de relações com Senai e o Senac, na formação e aperfeiçoamento de seus efetivos. Mas, no presente, fatos políticos envolvem assumiram os atos do Governo. O presidente da República acentua militarização dos entes públicos da administração direta e indireta e estatais.
Senai viabilizaria inovação aplicada
O mote, no desafio criado pelo Governo Dilma, era que a rede dos Institutos de Inovação (ISI) e de Tecnologia (IST), portanto, viesse a suprir a lacuna de desenvolvimento do país existente entre academia (universidade em geral) e a indústria. Deveriam, então, entregar inovação aplicada à indústria. Ou seja, a indústria demandou e/ou há mercado para aquela tecnologia, os pesquisadores dos Institutos do Senai entregam solução.
Mas, diferentemente das universidades, não se ocupariam com a pesquisa do conhecimento básico. Todavia, poderiam demandar e/ou serem parceiros das universidades civis e militares, além dos CTs independentes. Em tese: não concorreriam com a academia. Entregariam novas rotas de processos às indústrias.
O Sistema Senai, portanto, abriu portas para estagiários de níveis técnicos e superior e contratou dezenas de mestres e doutores. Os laboratórios que existiam e foram modernizados. A mídia, anunciando uma nova fase do Sistema Senai, foi farta. Encantou ao país.
Mas, o ritmo acabou patinando em duas recessões (Governo Dilma) da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Antes da Covid-19, o Sistema S perdia receitas. E se agravou com cortes nas receitas oriundas da arrecadação compulsória das empresas.
Modelo Fraunhofer, da Alemanha
Os ISTs, embora voltados mais para soluções na prestação de serviços, também inovariam. E outra diferença fundamental entre eles é a forma de atuação:
- ISIs – transversais. ISI do Pará pode entrar no mercado do RS, e vice—versa;
- ISTs – regionais. IST de MG pode atuar no mercado do RJ. Mas, antes, precisa consultar ao Senai local se há expertise em seus CTs para demanda inovadora específica do mercado local e/ou oferta naquele mercado.
O Sistema Senai buscou a experiência do Instituto Franhouver, da Alemanha, para os seus Institutos. E formas de gestão do MIT, nos Estados Unidos, e formação de pessoal com o ITA. Os recursos do BNDES viabilizaram principalmente a importação de equipamentos de última geração para laboratórios.
Senai de Minas saiu na frente
Em Minas Gerais, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas (Fiemg), Olavo Machado, propôs ao Governo de Minas comodato das antigas instalações dos laboratórios dos departamentos do então Cetec – Fundação Centro Tecnológico de Minas Geais. E iniciou, em 2013 mesmo, investimentos para implantar 8 institutos: três de Inovação e cinco Tecnológicos.
Assim, além de figurar com o maior número de Institutos no mesmo site, o Senai Minas queimou muitas etapas. Entre elas, corpo de pesquisadores do então Cetec, existente há 40 anos, laboratórios operando e carteira de clientes.
Além disso, o Senai Minas criou um Laboratório Aberto. Este dá oportunidade às indústrias e/ou profissional independente realizar prototipagem assistida de uma ideia. O complexo recebeu a denominação Centro de Inovação Tecnológica (CIT) Senai.
De início, o investimento projetado era para R$ 280 milhões, contando a parte dos recursos do Senai Nacional. Em 2018, com mais de R$ 100 milhões investidos, todos os Institutos do CIT em operação e mais de 40 laboratórios operando e/ou com equipamentos em instalação programada.
Minas pode perder a Embraer
Mas, algumas vantagens de Minas diluíram nas crises orçamentárias e de política de continuidade de projetos no CIT. Todavia, não é certa a continuidade de uma das âncoras dentro do campus, o braço do Centro de Engenharia e Tecnologia da Embraer.
Os cerca de 120 engenheiros (2017) da unidade mineira da Embraer, integraram as equipes de todos os projetos da empresa, como, por exemplo, do cargueiro KC-390. Além disso, é único Centro de Engenharia da empresa, no Brasil, fora de São José dos Campos (SP).
CIT foi procurado antes do Cimatec
Muito antes, porém, que o Cimatec e em outro contexto político do país, os institutos do CIT receberam diversas missões do Exército. A primeira delas, em 2014, de generais da Escola de Comando do Estado Maior do Exército (ECEME), da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, e do próprio DCT o ITEx. VEJA AQUI.
Fonte: Além do fato
Comentários