Se Bolsonaro esperava convencer alguém em Washington da disposição do governo brasileiro no combate ao desmatamento na Amazônia, foi em vão. Biden até citou o Brasil como exemplo de país que apresentou “notícias encorajadoras” durante a Cúpula Climática, mas o Czar do Clima dos EUA, John Kerry, não escondeu a cautela da Casa Branca em relação às promessas feitas pelo presidente brasileiro. “Alguns dos comentários que o presidente Bolsonaro fez me surpreenderam, e isso é muito bom. A questão é: eles vão cumprir? Como será feito?”, disse Kerry em coletiva de imprensa na 6a feira (23/4).
Outro indicativo da cautela foi noticiado por Ancelmo Gois n’O Globo: Kerry está programando uma visita ao Brasil apenas para depois de julho, em pleno auge da temporada de desmatamento e incêndios na Amazônia, para ter uma noção mais clara sobre o comprometimento efetivo de Bolsonaro e Salles com a situação da floresta.
Também n’O Globo, Míriam Leitão apresentou a expectativa dos embaixadores da Noruega e da Alemanha em Brasília, Nils Gunneng e Heiko Thoms, respectivamente, sobre os próximos meses na Amazônia. Para os diplomatas, que representam os dois principais doadores do congelado Fundo Amazônia, a resposta do governo Bolsonaro nos primeiros meses da temporada seca na floresta será chave para o mundo entender qual é a profundidade dos compromissos e das metas ambientais anunciadas pelo Brasil – e quais são as possibilidades de ajuda internacional ao país nesse tema.
Outro diplomata importante que comentou as promessas do Brasil foi o enviado especial da China para as negociações climáticas, Xie Zhenhua. Questionado por Marcelo Ninio, d’O Globo, Xie elogiou o histórico do Brasil na questão ambiental, mas reforçou que problemas sérios persistem. “Para enfrentá-los, a cooperação global e os esforços do lado brasileiro serão necessários”.
No Estadão, Janaína Dallan analisou os compromissos brasileiros anunciados na Cúpula Climática e também ressaltou a importância do país apresentar resultados e ações mais concretas nos próximos meses, antes da Conferência do Clima de Glasgow (COP26), para evitar mais dificuldades políticas internacionais. “Não poderemos apresentar de novo um discurso vazio, somente com promessas”.
Rubens Barbosa também escreveu no Estadão sobre o que os países esperam do Brasil nos próximos meses: “O fortalecimento da fiscalização por parte do IBAMA e do ICMBio, e a volta dos recursos, são medidas imediatas que se espera sejam adotadas pelo governo. A repressão ao desmatamento, queimadas, garimpo e o respeito à população nativa terão de ser adotados de imediato.”
Correio Braziliense, Folha, Istoé, O Globo, Veja e Valor destacaram as reações internacionais ao discurso de Bolsonaro.
Em tempo: Vale a pena ler a análise de Claudio Angelo (Observatório do Clima) no Poder360 sobre as promessas feitas por Bolsonaro na Cúpula Climática. “Restou ao presidente brasileiro fazer a única coisa que sabe: vender narrativa”, aponta Claudio. “Em teoria, uma mudança de discurso. Na prática, um palavrório que tem o mesmo valor das promessas de ‘recuperação em V’ ou ‘trilhões em privatizações’ do ministro da economia, Paulo Guedes.”
Fonte: ClimaInfo
Comentários