Sediado na Escola Politécnica da USP há 68 anos, o Escritório Piloto promove projetos de extensão popular que encontram na engenharia soluções participativas e emancipatórias
Construir caminhos entre a formação acadêmica e a realidade popular. Abraçar projetos que possibilitem a oportunidade de liderar. Dialogar com diferentes grupos e coletivos na aplicação de soluções sociais, tecnológicas e ambientais. São apenas alguns dos propósitos do Escritório Piloto (EP), um laboratório interdisciplinar de projetos de extensão universitária ligado ao Grêmio Politécnico da USP.
O EP foi fundado em 1953 com função didática e uma gestão mais centrada na figura de docentes da Escola Politécnica (Poli) da USP. Em 1955, começou a realizar trabalhos técnicos em caráter assistencial e sob o modelo de um escritório profissional de engenharia. Desde a década de 1990, porém, vem se consolidando como uma iniciativa de extensão popular, que utiliza o conhecimento proporcionado pela Universidade para desenvolver projetos de cunho social em conjunto com a sociedade de baixa renda.
O conceito de extensão utilizado nos projetos é o de Paulo Freire, no qual a experiência vivida gera troca de conhecimento, sem imposição de hierarquia. Para além de cálculos e execuções, os integrantes buscam incrementar o desenvolvimento humano e econômico das comunidades em que atuam de maneira participativa, aprendendo sobre aquela realidade e adaptando novas formas de pensar soluções.
Extensão e comunicação
Levando na bagagem o projeto de reforma e urbanização do Conjunto Residencial da USP (Crusp), em São Paulo – considerado o primeiro projeto de retrofit do Brasil -, o escritório contabiliza uma série de trabalhos na área da habitação popular. Entre eles, a requalificação de cortiços da ocupação da Rua do Ouvidor e o projeto de reabilitação do prédio ocupado por movimentos de moradia na Rua Mauá, 340, ambos no centro histórico de São Paulo.
O projeto de recuperação do Crusp, realizado em 1984, foi considerado ousado. Embora tivesse apoio e orientação de professores, o trabalho era concebido por estudantes. Entre eles, o professor Silvio Melhado, aluno do último ano de Engenharia Civil, na época.
Atualmente professor agregado na École de Technologie Supérieure (ÉTS-Montréal), no Canadá, o engenheiro conta que iria se formar antes da finalização do projeto. Para permanecer como estagiário até a entrega, ele se matriculou em uma disciplina optativa e estendeu sua permanência na faculdade. “Foi uma medida extrema de paixão pelo tema”, diz.
Segundo Melhado, a solução que os estudantes encontraram para enfrentar a falta de recursos e ainda superar os riscos de incêndio elevou o Escritório Piloto a um status de competência na área civil. “Essa foi a concepção original do professor Ariosto Mila, que viabilizou a existência do EP, conseguindo um registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) vinculado ao dele próprio.”
Fonte: Jornal da USP
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