Reconstruir o Brasil, além de lutar por gestão pública transparente e com participação da cidadania, precisamos buscar novos rumos de comunhão social, com o objetivo de apaziguar a sociedade e resgatar a economia em favor da cidadania.
Belmiro Vianez Filho
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Diante de um país dividido, e com indícios de muitos abalos na economia, é preciso repensar – em clima de largada da temporada eleitoral – a importância de nosso direito e compromisso cívico/eleitoral: o voto. Perdemos muito tempo, energia e talentos que poderiam ser usados para a reconstrução de um país atrasado como o nosso, gastando o melhor de nós em futricas que levam a lugar algum. Somos um país saqueado historicamente por governantes despreparados. Prolixos em promessas e ávidos, muitas vezes, por chamar de seu aquilo que pertence a coletividade.
Culpa deles ou nossa?
Nenhum nem outro. Longe de nós sentarmos na confortável cadeira do juiz e, sem perceber, afastar a própria mão da consciência cidadã. Sejamos honestos. Somos coletivamente responsáveis por esse mar de desencontros, de rupturas severas, que separam até pessoas que se querem bem. Isso é um absurdo e precisa ganhar um basta. Trata-se de um falso conflito que nos cega e estupidifica, pois pensarmos diferentes é premissa de crescimento não de embrutecimento.
Sujeitos da História
Afinal, quem escolhe vereador, deputado, senador e presidente da República? Ainda bem que não temos mais a figura do representante da sociedade bionicamente nomeado. Quem elege, pois, um representante que defende ou não o tecido social sou eu, é você, todos nós que vivemos a liturgia democrática. E por falar em democracia este é um instrumento que precisamos repensar urgentemente.
Voto e Democracia
Vamos retornar por instantes ao banco da escola e recuperar o sentido de duas palavras importantes. Uma delas é o voto e a outra é a democracia. Engraçado notar que no sentido literal e etimológico da palavra voto nós temos dois conceitos fundamentais. Voto é promessa e também desejo ardente. No sentido de promessa, essa palavra descrevia nas diversas religiões um compromisso com a divindade. Atualmente, serve para traduzir sentimentos e traduz um desejo ardente. E é nesse sentido que nós utilizamos a palavra no cotidiano quando desejamos votos de felicidade a um ente querido. Quando votamos, no ambiente político eleitoral, nós queremos ardentemente que aquele cidadão ou cidadã nos represente em nossas demandas no âmbito da vida cotidiana. Exercemos também uma atitude de compromisso, ou promessa a um determinado político. Vamos meditar. Será que dedicamos a esse mecanismo a análise necessária para que o escolhido, decididamente, adote o combate de conquista por uma sociedade mais justa? Fica a sugestão para uma reflexão mais cuidadosa de cada um.
Governo do povo?
O outro conceito, objeto de muitas interpretações e querelas neste Brasil deveras conturbado, é o de democracia que, etimologicamente, significa o governo do povo pelo povo, ou por seus representantes. Este é o ideal que nos move e que podemos chamar de utópico, um conceito que costumamos traduzir erroneamente como algo impossível, inacessível. Dizemos erroneamente porque utopia, dizem os dicionaristas, quer dizer um lugar que não está presente. Um lugar supostamente melhor e que pode ser alcançado. Por isso, muitos pensadores atribuem ao conceito de democracia uma utopia para a qual nós devemos nos direcionar e trabalhar por sua antecipação. Por isso é fundamental termos clareza de onde estamos e para onde queremos ir.
Enganação digital
E quais são os entraves, em meio a este turbilhão de informações desencontradas, e muitas vezes falsificadas, para buscarmos o cenário ideal do exercício rumo à utopia democrática. Existe uma tarefa imediata sem a qual iremos a nenhum lugar. É preciso combater a informação corrompida, produzida para manipular indiscriminadamente a consciência social. Alguns mecanismos podem nos ajudar a identificar a enganação, por exemplo, fortalecendo as instituições e os instrumentos de comunicação que comprovadamente estão comprometidos com a relação entre verdade e exercício da cidadania. Isso não é fácil mas é necessário.
Comunicação e dominação
E aí nos deparamos com uma grande dificuldade. Ou um desafio. A explosão das redes sociais se deu por ser uma tentativa de propiciar ao cidadão uma ferramenta de comunicação direta com seus semelhantes. Ainda é, embora tenha sido instrumentalizada para defender grupos, interesses e narrativas de propósitos encobertos. O mais grave, porém, é quando se trata de instrumentos poderosos de comunicação que, em nome de esclarecer as distorções, fabricam narrativas mais falsificadas e sofisticadas. Essas estruturas, trabalhando historicamente com o mundo do faz de conta, induz o senso comum propositalmente muitas confusões. Isso em todos os níveis e em todas as instituições. É preciso estar muito atento e ter muita clareza da diferença entre o que é essencial o que é acidental, aparente e ilusório.
Remover estes embaraços, socialmente graves e politicamente desonestos, exige um exercício de acuidade permanente que nos obriga a mapear coerência ou a incoerência entre o que é dito e o que faz na prática o grupo irradiador desta narrativa. Exemplos não nos faltam.
Apaziguar relacionamentos
Existem especialistas dedicados exclusivamente a essa missão. Devemos nos unir a eles na medida que conhecermos suas intenções para validar a que se destinam suas narrativas e se há propósitos lícitos de conduta. Reconstruir o Brasil, além de lutar por gestão pública transparente e com participação da cidadania, precisamos buscar novos rumos de comunhão social, com o objetivo de apaziguar a sociedade e resgatar a economia em favor da cidadania. Isso implica em refazer as trilhas que pode nos livrar da intolerância e da paranoia na busca de um cenário utópico de brasilidade que depende só de nós.
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