A professora Leila Tardivo diz que a irritabilidade é uma das principais reações emocionais em crianças. Já os adolescentes apresentam tristeza, solidão e tédio
Toda criança será exposta a situações estressantes, como perda do animal de estimação, mudanças de escola e cidade etc. No entanto, o cenário de pandemia do coronavírus é ainda mais complicado e atípico. Crianças e adolescentes que apresentam muitas manifestações depressivas devem receber apoio daqueles que estão em volta e buscar ajuda profissional.
A professora Leila Tardivo, do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da USP, explica ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição que o grau de tolerância no cenário pandêmico que vivenciamos deve ser muito maior para crianças que estão no começo da segunda infância, com 7 ou 8 anos. “Precisamos considerar que a falta dos amigos e professores é muito forte em crianças e é muito importante que elas tenham entretenimento em casa – e aí vai depender se os pais também estão sobrecarregados ou não, especialmente as mães ”, ela afirma. Poder jogar, assistir a um filme ou desenho, algo que seja agradável e que possa promover um ambiente harmônico para as crianças que estão isoladas por um longo período e que estão desenvolvendo grande níveis de irritabilidade, que é uma manifestação depressiva. “Se ela já era irritada antes e fica mais impaciente e agressiva, claro, é importante tentar evitar ser violento e entender que isso pode estar relacionado a esse momento. Se a criança está muito quietinha, muito no canto, já manifestando sintomas depressivos mais de acordo com adolescentes e adultos, mais cuidado ainda”, alerta a professora.
A irritabilidade é uma das principais reações emocionais em crianças – a falta de amigos na escola é uma constante. Já os adolescentes apresentam tristeza, solidão e tédio, outros sintomas depressivos que requerem mais atenção para que o adolescente não se desestimule por completo. Já nos adultos, mesmo em outras pesquisas nacionais e internacionais, ansiedade e depressão foram as respostas mais intensas, decorrentes ou relacionadas à pandemia. Leila afirma que o grau de sofrimento deve ser o termômetro para a busca de ajuda profissional. “Não à toa, temos um serviço no IP que atendeu 1.600 pessoas; somos uma rede de saúde, temos um convênio com a Secretaria da Saúde e ministramos cursos.” Ela lamenta o fato de que as redes de saúde estão lotadas, coletando em sua unidade mais de 800 inscrições em 15 dias. Na rede Apoiar, o principal motivo da busca por ajuda foi ansiedade, que engloba fobia, medo, pânico, medo de ficar doente – especialmente quando pessoas próximas a ela começam a adoecer – e também uma grande quantidade de pessoas com depressão,” e o que nos preocupa é que, em adolescentes, há reações suicidas, isso é muito preocupante e é uma faixa etária onde o suicídio vem sendo significativo”, diz.
Psicólogos e psiquiatras estão atendendo por teleconsulta e o Instituto de Psicologia atende pacientes com quadros de depressão, autolesão sem risco de suicídio iminente, todos de forma on-line. “A gente sempre aconselha, quando são casos muito graves, a procurar a rede de saúde porque a rede em geral está sempre disponível, além da UBS [Unidade Básica de Saúde], o CAPS [Centros de Atenção Psicossocial] para um caso mais grave. Quando observamos que é um caso mais grave, além de atendermos, encaminhamos para a rede de saúde do bairro”, conta Leila, que observa a lotação das redes de saúde, sucateadas, com pouca verba e que sofrem saídas de profissionais – afastados ou que morreram.
Em escolas, a rede Apoiar faz trabalhos preventivos em grupo com os adolescentes on-line, ajudando a observar como eles estão se sentindo. Os cinco encontros envolvem atividades e rodas de conversa. Leila conta que “muitas vezes esses encontros são suficientes para eles se sentirem melhor e aí, se alguém precisar de uma terapia individual, nós tentaremos absorver. Ano passado, atendemos 80 adolescentes nessas condições de grupos; a escola nos procura e nós fazemos”. No site do IP, em serviços, encontram-se os programas de apoio. O contato para as atividades com as escolas por diretores e apoiadores é diretamente no [email protected].
Fonte: Jornal da USP
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