Neste fim de semana, o nível dos reservatórios do principal sistema elétrico, o do Sudeste/Centro-Oeste, caiu a menos de 27%, com pouca perspectiva de chuvas até outubro. A continuar deplecionando-se na velocidade atual, o ONS prevê que, em novembro, o sistema poderá não dar conta de atender a demanda no meio da tarde para o começo da noite – o chamado horário de ponta da demanda. Ainda haverá água, e portanto energia, suficiente para atender a demanda, mas esse aperto no fim do dia pode significar cortes localizados. A Folha e O Globo deram a notícia.
Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL, volta para a aritmética básica para mostrar que o sistema elétrico atual não é tão mais robusto do que aquele que levou ao apagão de 2001. Em artigo no Valor, ele explica que, de fato, o sistema é bem mais diversificado e que, ao invés de 90% da eletricidade ser gerada nas hidrelétricas, agora, elas respondem por 65%. Só que isso não significa robustez.
Santana conta que no ano 2000, logo antes da crise, os reservatórios eram operados para garantir 24 meses de abastecimento. A crise ocorreu por ter havido mais de 2 anos seguidos de pouca chuva. Agora, os reservatórios são operados garantindo 4 meses de abastecimento, sendo, portanto, bem mais vulneráveis do que há 20 anos. “Os reservatórios só têm energia para 1/3, mas as usinas precisam gerar para 2/3 ou mais do consumo.”
Santana estima o tamanho do custo de se acionar termelétricas caras e, pelo arranjo do sistema elétrico, o custo de não se ter água nas hidrelétricas, afirmando que tudo isso será traduzido em reajustes das tarifas ao longo dos próximos 12 meses. Como ele conclui: “Só que, lá [em 2001], o setor elétrico era inseguro e barato e, 20 anos depois, ele perdeu robustez e ficou muito mais caro. Essa é a diferença, para pior”. A Folha também comentou os futuros tarifaços e, mesmo com eles, a insegurança do fornecimento de água e luz.
Em tempo: Nicole Oliveira, da Arayara, escreveu no Valor sobre o poderoso lobby do carvão do Sul que busca de todas as formas manter seu feudo. Mesmo às custas de sujar a matriz elétrica nacional e piorar o aquecimento global. Ela aponta duas penalizações batendo à porta. A mais conhecida é que, a cada dia, o mundo financeiro para de investir em geração a carvão e empresas de energia fecham essas operações. A novidade virá por conta da taxação de carbono de importações na Europa e, em breve, nos EUA. Com uma matriz elétrica cada vez mais suja, poucos serão os produtos não “contaminados” pelas térmicas a carvão e outros fósseis e, portanto, menos competitivos nos mercados estrangeiros.
Fonte: ClimaInfo
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