O novo relatório do IPCC sobre a situação da crise climática na Terra foi uma traulitada na cabeça. O panorama apresentado por ele explicitou não apenas a gravidade da situação, mas também o fato de que, três décadas após os primeiros alertas do Painel sobre a mudança do clima, a humanidade foi incapaz de alterar a trajetória de aumento das emissões de carbono que nos acompanha desde a Revolução Industrial do século XIX. Isso não se deu por falta de soluções, mas sim pela indiferença generalizada de governos e empresas nas últimas décadas, que se interessaram pouco (quando se interessaram, aliás) em tirá-las do papel.
“A mensagem que não está explícita neste relatório é que, se nós estamos causando esse problema, nós [é] que temos que resolver. Naturalmente ele não será resolvido”, explicou à RFI Suzana Kahn, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do IPCC.
Na mesma linha, o professor Ricardo Abramovay (USP) escreveu no UOL Tab que as conclusões do IPCC indicam a necessidade de mudanças estruturais e drásticas na vida econômica da humanidade. Para ele, à luz dos dados científicos, os planos climáticos de muitos países e empresas ainda estão aquém do necessário para conter o aquecimento do planeta em 1,5°C. Para que possamos superar essa situação, duas mudanças mais profundas precisam acontecer: primeiro, cada pessoa deve encarar a crise climática com seriedade e urgência, considerando o combate às desigualdades e a cooperação como objetivos centrais; e, segundo, as políticas econômicas e as decisões empresariais precisam ser pautadas pelo seu impacto potencial sobre o clima.
“A urgência atual não permite mais que este tema seja encarado como ‘externo’ à vida econômica, como uma espécie de consequência não antecipada, não prevista de nossas atividades e que será corrigida em algum momento”, argumentou Abramovay.
Fonte: ClimaInfo
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