A coleção de via úmida recebeu 58 mil formigas provenientes de monitoramento ambiental da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira
Os acervos biológicos mais antigos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) possuem mais de 50 anos e já testemunharam alterações de grande porte na biota amazônica, como a construção das hidrelétricas de Balbina, Tucuruí, Belo Monte e Rio Madeira. Esses acervos trazem o registro da biodiversidade de áreas que nunca mais recuperarão a sua diversidade natural, sendo os únicos testemunhos da existência de várias espécies extintas localmente.
A coleção de formigas do Inpa deve conter pelo menos 15 mil exemplares montados em alfinetes entomológicos, distribuídos em 11 subfamílias das 17 viventes no mundo. Já a parte do acervo em via úmida (em álcool a 80%), possui uma quantidade ainda não calculada de exemplares, podendo chegar a dezenas ou mesmo centenas de milhares.
Desde 2009, um incremento na identificação e classificação da coleção de Formicidae vem sendo realizado pela Dra. Itanna Fernandes, que, em 2012, após a obtenção do título de mestre, passou a auxiliar a curadoria. Desde então, a coleção principal recebeu representantes de outras duas subfamílias, Agroecomyrmecinae Carpenter, 1930, e a raríssima subfamília Martialinae Rabeling & Verhaagh, 2008, possuindo hoje em seu acervo 13 subfamílias.
De acordo com Itanna, a subfamília Martialinae é endêmica da região amazônica, possuindo como localidade tipo a região metropolitana de Manaus, e é considerada a espécie mais rara dentro da mirmecologia (ciência que estuda as formigas).
A espécie foi inicialmente descrita com base em uma única operária, e mais tarde, devido à visita do pesquisador americano Brendon Boudinot (especialista em machos de formigas), uma série de 25 machos pertencentes à espécie foi descoberta na via úmida da coleção do Inpa, esta, coletada em 1985 por Bert Klein. “A descoberta desses indivíduos tornou a Coleção de Invertebrados do Instituto a maior detentora mundial de representantes da espécie”, contou.
Em dezembro último, Dra. Itanna, com a ajuda do curador e pesquisador do Inpa Dr. Marcio Oliveira e do técnico Francisco F. Xavier Filho, incorporaram à coleção principal outras nove mil formigas montadas em alfinetes, distribuídas em 13 subfamílias. Essas formigas pertencem à fauna brasileira e peruana, obtidas durante as inúmeras expedições científicas realizadas no decorrer do seu mestrado e doutorado. Dentre esses indivíduos, há representantes do gênero Syscia Roger, 1861, até então registrado apenas para a Colômbia e que está em processo de publicação.
Já a coleção de via úmida está recebendo da Dra. Itanna Oliveira e do Dr. Jorge Souza aproximadamente 58 mil formigas provenientes do monitoramento ambiental da Usina de Santo Antônio no Rio Madeira, durante as fases de pré e pós-enchimento do reservatório da hidrelétrica. O monitoramento e o banco de dados obtidos com o estudo foram mundialmente premiados em 2017 pelo Global Biodiversity Information Facility (GBIF) como o melhor banco de dados na categoria Dados Ecológicos, sendo o Inpa o único detentor desse material.
Desde sua criação na década de 1990 (no Programa de Coleções Científicas Biológicas), a coleção de Formicidae não recebe um depósito tão substancial e representativo, tornando-se notável pelas inúmeras visitas científicas, além de pedidos de empréstimos e colaborações. Com a implementação da coleção em via seca e úmida, o Instituto espera uma procura ainda maior pelo acervo, incentivando gerações presentes e futuras no estudo da mirmecofauna.
Fonte: Portal Amazônia
Comentários