“Ciência não se faz de um dia para outro para resolver um problema; Ciência é uma atividade contínua, que evolui de acordo com os cenários que vivemos, produzindo informações que se antecipam àquilo que vai acontecer. Ciência é uma atividade voltada para o desenvolvimento, para a qualidade de vida, para a saúde, para a alimentação, para a conservação, enfim, para a integridade da vida”.
Adalberto Luís Val – INPA
O Ministério da Economia, em atendimento a mais um surto perverso do negacionismo reinante, desferiu um polêmico e pouco inteligente corte, muito possivelmente letal, nos recursos orçamentários de Ciência, Tecnologia e Inovação para este ano. Eram R$ 745 milhões que seriam destinados, entre outras emergências, à bolsas de apoio à pesquisa, e a projetos já agendados pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas). A ordem foi de deslocar R$ 690 milhões para outros ministérios.
Como se não bastasse todo o negacionismo no cenário da pandemia, como também em outras áreas do conhecimento – dispensando consensos, flertando com vários tipos de “terraplanismos”, e igualando ciência com opinião – a materialização desse espírito do nosso tempo se deu no dia de hoje.
Os estragos que isso representa são inestimáveis não apenas pela suspensão imediata de pesquisas vitais, essenciais, que incluem descobertas na área de saúde, inovações no setor energético, hídrico, farmacêutico, etc, mas porque recomeçar do zero implica no maior retrocesso científico da história da República.
Risco à Ciência e Inovação
O ministro Paulo Guedes enviou determinação do Palácio do Planalto para o Congresso, destinada à Comissão Mista do Orçamento. A ordem era cortar e remanejar R$ 690 milhões já previstos para nossa tão maltratada Ciência. Para todos os problemas deixaram apenas R$ 55 milhões e um estado de calamidade para pesquisadores e para a saúde da pesquisa e do desenvolvimento. Em julho, o governo federal já havia bloqueado R$116 milhões da insuficiente dotação orçamentária para o pagamento de bolsas de pesquisas do CNPq. O orçamento do CNPq para 2021 já veio decepado, em relação a 2020, de cerca de R$ 100 milhões no programa de bolsas. Com este corte adicional, o órgão poderá ser levado à suspensão no pagamento das bolsas nos últimos meses deste ano. As principais entidades científicas do Brasil, numa ação derradeira, fizeram um apelo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dizendo que se isso prevalecer “está em questão a sobrevivência da ciência e da inovação no país”. Entre outras entidades, o documento é assinado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a SBPC.
“Uma catástrofe!”
O cientista Adalberto Luís Val, parceiro do portal BrasilAmazôniaAgora, e um dos cérebros mais respeitados mundialmente quando o assunto é ictiofauna tropical, comentou a notícia, se mostrando devastado com a gravidade da notícia:
“ Quando soube disso ontem, apesar de todos os desafios vividos até aqui, fiquei profundamente chocado. Isso não é um desastre só para a Ciência brasileira e mundial, afinal o Brasil ocupa uma posição relevante no cenário internacional em termos de produção de informação científica robusta; é um desastre para todos os segmentos sociais. Para nós aqui na Amazônia, uma catástrofe sem precedentes.”
“Matar a Ciência é roubar as perspectivas da Nação”
No Laboratório onde atua, investigando o perfil biomolécula de espécies importantes da Amazônia como o tambaqui, a notícia caiu como uma bomba nos bolsistas que ali trabalham e dependem da bolsa para sobreviver enquanto produzem conhecimento para o desenvolvimento científico e social.
“Ciência não se faz de um dia para outro para resolver um problema; Ciência é uma atividade contínua, que evolui de acordo com os cenários que vivemos, produzindo informações que se antecipam àquilo que vai acontecer. Ciência é uma atividade voltada para o desenvolvimento, para a qualidade de vida, para a saúde, para a alimentação, para a conservação, enfim, para a integridade da vida. Matar a Ciência é roubar as perspectivas da Nação, é roubar o futuro das pessoas, dos jovens de hoje e daqueles que ainda vão nascer. Matar a Ciência hoje é deixar um país desconstruído para todos e sem referências para os próximos governantes”.
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