“E quando tudo isso passar, eu quero estar tomando um sorvete bem gostoso com meu filho, minha esposa, meus pais e minha irmã, e gritar dizendo: “questo è vero”, pois não há mal que dure para sempre.”
Farid Mendonça Júnior
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O filme “A Vida é bela” conta a história de uma família italiana judia que, no começo da segunda guerra mundial, é capturada pelos nazistas e enviada para um campo de concentração. Pai, mãe, filho e avô são separados no campo de concentração logo que chegam e cada um vive suas próprias angústias.
Entretanto, o pai Guido dá um jeito de encontrar seu filho Josué (com uns 5 ou 6 anos de idade), levá-lo para o setor adulto masculino onde estava e consegue até o final do filme esconder seu filho, com a anuência dos demais prisioneiros.
As adversidades num campo de concentração são muitas, a começar pelo trabalho forçado para produção de armas a que Guido e os demais prisioneiros são submetidos, além da língua alemã para aqueles que não a dominam.
Para completar, o frio e as condições drásticas de higiene, com um amontoado de gente fedendo e com as inúmeras doenças que a situação propiciava.
Nesta situação desesperadora, Guido só encontra um jeito de justificar tudo aquilo para seu filho Josué, que não entende bem o que está acontecendo e pede para voltar pra casa e que está com saudade da sua mamãe. Guido cria uma história. Inventa que eles estão numa competição, que cada tarefa diária que eles completarem vão ganhar uma determinada quantidade de pontos, que o objetivo é não serem descobertos pelos caras malvados que gritam, e que quem fizer mais pontos ganhará um tanque como prêmio.
No final do filme, com o final da segunda guerra, os nazistas começam a eliminar a maior quantidade possível de prisioneiros, um deles é Guido.
Josué consegue se esconder até o final, conforme as instruções do seu pai. Já quase sozinho e escondido no campo de concentração, Josué testemunha a chegada das tropas aliadas, lideradas por um grande tanque. E neste momento grita: “É vero”, que significa que é verdade ao avistar o tanque, conforme prometido pelo seu pai.
Josué sobreviveu ao holocausto devido principalmente à uma fantasia que seu pai criou e pela expectativa de receber o prêmio, o tanque.
Evidente que nós adultos ao viver este cenário de “guerra” causada pelo coronavirus, justamente no país que se orgulha em dizer que nunca se envolveu em guerra (o que não é verdade. Guerra do Paraguai foi uma), não precisamos inventar histórias e fantasias para fugirmos da nossa realidade diária.
Mas podemos sim ter esperança e nos alimentarmos diariamente com atitudes e atividades boas, sadias e que elevem o nosso espírito. Uma delas é ouvir músicas, as que você gostar. Uma outra possibilidade, que tenho praticado bastante, é brincar o máximo que posso com meu filho, fazer carinho e ficar horas prestando atenção na carinha angelical e na pureza dele. Isso acalma meu coração e me dá esperança de que vamos sair desta situação e que dias melhores com certeza virão.
A minha esperança é acreditar que eu e minha família vamos sobreviver. A sobrevivência será meu “tanque”.
E quando tudo isso passar, eu quero estar tomando um sorvete bem gostoso com meu filho, minha esposa, meus pais e minha irmã, e gritar dizendo: “questo è vero”, pois não há mal que dure para sempre.
Dedico este texto ao meu tio Fuad Seffair, meu querido tio Fadinho, que nesta madrugada faleceu devido às complicações desta terrível doença. Que Deus o receba em seu reino!
Para nós que estamos aqui, vamos continuar aguardando o nosso “tanque”, pois ele virá.
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