Um conjunto de fatores internos e externos ajudou a economia no primeiro semestre de 2021, mas Nakabashi alerta que, para 2022, o controle da inflação e dos gastos públicos em ano eleitoral será fundamental
Apesar do pessimismo imposto pela pandemia quanto ao crescimento da economia brasileira, ela vem reagindo e as expectativas continuam em alta, inclusive para este primeiro semestre, quando se esperava retração. Na coluna Reflexão Econômica desta semana, o professor Luciano Nakabashi explica os fatores que levaram à melhora na economia, contrariando todas as expectativas de início de pandemia.
Para o professor, essa melhora e expectativas em alta são reflexos de fatores internos e externos. No âmbito interno, Nakabashi destaca as reformas feitas anteriormente, no governo de Michel Temer e no primeiro ano do governo Bolsonaro, como a da Previdência, por exemplo, e pelo controle dos gastos do governo, além da reforma da terceirização no mercado de trabalho e mudanças no mercado financeiro. “Essas mudanças no mercado financeiro trouxeram novas regulamentações, favorecendo o aparecimento de novas empresas no setor, a implantação do pagamento pelo PIX, que deu acesso a inúmeras pessoas ao sistema financeiro.”
O professor lembra que uma série de elementos foram ofuscados pela pandemia, que teve um efeito muito severo na economia mundial e brasileira, e que até se esperava um impacto muito maior com a segunda onda da covid-19, maior até do que realmente aconteceu. “Esperava-se uma retração do PIB no primeiro trimestre e provavelmente no segundo trimestre de 2021, mas o primeiro trimestre teve um crescimento positivo.”
Para Nakabashi, as pessoas aprenderam parcialmente a conviver com o vírus, mesmo com muito mais contágios e mortes nessa segunda onda, quando o impacto na economia foi muito menor. “Talvez as duas coisas estejam relacionadas, as pessoas se isolaram menos, o que causou menor impacto na economia, mas um impacto maior no sistema de saúde, em função da gravidade da segunda onda.”
Outro ponto destacado pelo pesquisador é a recuperação forte das principais economias mundiais, com destaque para Estados Unidos e China, o que tem efeitos nos preços das commodities. “A demanda internacional pelas commodities está em alta e com isso melhorou muito as exportações brasileiras, tanto no preço como na quantidade. Também tem a liquidez internacional, que tende a ser direcionada a países que apresentam melhora econômica, e já percebemos essa vinda de capitais para o Brasil, tanto em carteiras como em investimentos diretos, que podem ser elementos essenciais para a retomada mais forte da nossa economia.”
Mas o professor alerta que, para 2022, o cenário está um pouco mais nebuloso. “Tivemos uma melhora nas contas públicas, parcialmente pela questão da inflação, que foi positiva, pois reduziu a dívida em relação ao PIB, mas deve elevar as taxas de juros.” Nakabashi diz que a questão inflacionária preocupa, somada ao aumento dos preços das commodities, e com a falta de produtos e aumento dos preços de componentes, bens industriais e também de alimentos, ou seja, com a desorganização das cadeias produtivas ao longo da pandemia.
Outra questão que, segundo Nakabashi preocupa, é a fiscal, que não está resolvida; tivemos aumento maior do PIB nominal, porque o PIB real está crescendo mais que a inflação, o que ajuda a reduzir a dívida PIB. O professor explica que estabelecer o teto dos gastos do setor público foi fundamental para manter esse cenário positivo, atrair investimentos e gerar crescimento da economia, mas isso não é sustentável. “Precisamos de mais reformas, que mantenham essas contas em ordem, além de avançar com a vacinação, que tem sido muito importante no processo de retomada da economia brasileira e das expectativas. Para 2022, precisamos ver a questão inflacionária e controlar os gastos em ano eleitoral, para não prejudicar a economia brasileira.”
Fonte: Jornal da USP
Comentários