Por enquanto, o grande impacto da crise hídrica sobre o sistema produtivo é o aumento da conta de luz. Segundo o UOL, o presidente do Banco Central entende que os juros terão que subir para segurar a inflação. Juros mais altos reduzem a atividade econômica e, portanto, o PIB. Com menos PIB gasta-se menos água, mas aumenta-se o desemprego e o espectro da fome no prato de quem não tem como se defender.
A tragédia não para aí. As projeções de chuva para este final de ano não são das mais animadoras. Estima-se que os reservatórios passarão o réveillon com menos de 15% da sua capacidade.
Muita gente pede uma atuação mais decisiva do governo, como aconteceu em 2001. A avaliação é que, apesar do PIB ter caído em relação ao que vinha acontecendo desde o Plano Real, o tombo teria sido ainda maior sem medidas governamentais fortes. A crise foi um dos fatores importantes no ano seguinte quando Lula chegou à presidência pela primeira vez. Vale ver a matéria da Veja sobre apagões e os custos econômicos e políticos.
Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL, voltou à carga no Valor. Ele afirma que a gravidade da atual crise estava claramente colocada ainda no começo do ano. A decisão de empurrar com a barriga é típica de quem não é do ramo, como o ministro Bento. Se um racionamento tivesse sido adotado em junho, o impacto sobre a economia e, principalmente, sobre os consumidores mais pobres já teria sido menor. Santana cita que, neste caso, o custo da crise estaria por volta de R$20 bilhões. Bem salgado, mas muito menor do que os R$110 bilhões que ela está custando agora. Parte gorda da diferença irá para o bolso dos donos das térmicas e para quem vende petróleo e gás para estas. Outra parte irá para quem aderir aos planos voluntários de redução de consumo.
Santana diz que os pequenos consumidores, responsáveis por ⅓ do consumo, pagarão mais de ⅔ da conta. Falando do vício de linguagem do setor, ele crava: “o fim, ‘nossas’ térmicas + ‘nossas’ hidrelétricas + ‘nossas’ distribuidoras + ‘nosso’ sistema de transmissão resulta bem maior que os ‘vossos consumidores’, vistos, sim, como meras externalidades a um sistema que é pródigo em criar e encarecer crises e em transferir despesas”.
Por falar em Bento, no meio de uma das piores crises energéticas da história, o ministro foi viajar para o exterior novamente, como fez em julho e, de novo, no mês passado. E, novamente, foi tratar de energia nuclear, sua paixão. A Veja e o Antagonista comentaram a viagem.
A ANEEL pretende contratar mais térmicas para fornecer energia entre abril do ano que vem e dezembro de 2025. A justificativa é poupar água dos reservatórios, sendo que, dada a urgência colocada pela crise hídrica, avaliam se é o caso de convidar empresas no lugar de realizar um leilão. Leilões foram adotados para comprar energia pelo menor preço. Ou seja, há um risco da conta de luz seguir alta até 2025, mesmo se voltar a chover bastante. Um preço que o próximo governo herdará.
A notícia saiu na Folha, n’O Globo e no Correio Braziliense. Vale ver a matéria do G1 sobre o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste que bateram em 19% da sua capacidade neste final de semana.
Fonte: ClimaInfo
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