Data de Publicação: 06.09.2020
Esta semana perdemos mais um irmão para o coronavírus. Toda vida humana é sagrada e merece ser vivida. Por isso, todos os que foram vitimados mereceriam uma pequena biografia que não nos deixassem esquecer os seus sonhos. Stanley era um pastor da Igreja Assembleia de Deus no Amazonas. Mas tornou-se um grande amigo do Arcebispo de Manaus. Pentecostal, acreditava na força do Espírito Santo que agia nele para mudar as coisas.
Um belo dia recebi um convite para participar de uma reunião para tratar de forma ecumênica os problemas da cidade. O endereço da reunião indicava que seria numa casa usada por ele para escritório dos seus negócios. Eu me acostumei na minha vida a responder positivamente a todos os convites que me fazem e vendo ali a oportunidade de avançar um pouco no diálogo com outras lideranças cristãs, aceitei o convite. Ao chegar ao local fui muito bem acolhido, pelo Stanley, e por um pastor seu amigo, líder da Igreja Presbiterana em Manaus. Lá estava também um procurador da república. Lembro-me que para secretariar a reunião estavam dois jovens pentecostais.
Ele propunha fundar em Manaus um comitê cidadão que falasse sobre os grandes problemas da cidade, juntando as lideranças religiosas com as lideranças dos diversos segmentos representativos da sociedade. Passamos a nos reunir uma vez por mês, e tratamos diversos assuntos importantes para a cidade. Alguns se transformaram em ação.
O grupo não tinha personalidade jurídica, porque preferimos assim. O Stanley coordenava e eu e o pastor José João éramos conselheiros. Para os críticos e até inimigos dele, ele fazia tudo isto para viabilizar sua candidatura a vereador de Manaus. Sempre foi muito claro para mim o seu sonho de representar o povo de Manaus, e suas aspirações políticas. Quando chegavam as eleições ele sempre ficava dividido entre ser e não ser candidato. Mas como era membro de Igreja sempre levou em conta as orientações da sua Igreja. Levava muito a sério também as ponderações do Pr José João, um homem de Deus e verdadeiro pastor. Minha posição foi sempre de que ele fazia muito mais pelo povo como comitê cidadão, que como político.
No dia de sua morte, pelos testemunhos se via que era um homem de muitos amigos. Amigos de diferentes classes sociais, de posicionamento político diferente do seu. Fez uma forte experiência de conversão na Igreja Assembleia de Deus e foi fiel a sua Igreja até o fim. Havia um limite para a sua rebeldia, os conselhos de seu pai espiritual. Homem dedicado à família. Com que orgulho falava dos filhos e com que preocupações também. Fica na minha lembrança as vezes que ele me veio pedir se caminhava para frente no projeto com o SEBRAE e a última grande ação, quando junto com o CODESE foram distribuídas 10.000 cestas básicas.
Era ele que tinha os contatos das paróquias, igrejas evangélicas, grupos de ajuda, sindicatos, que recebiam. E cada semana lá estava ele na distribuição das cestas. Provavelmente ele se descuidou, e foi infectado. Não importa. Morreu dando testemunho da fé que tinha em Jesus. Era ele o seu grande amigo que lhe concedeu a graça de também morrer pelos seus.
DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO EMÉRITO
Fonte: Jornal em tempo
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