Paulo R. Haddad
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A probabilidade de uma eventual depressão econômica é significativa no Brasil, pois estamos entrando num processo de causação circular cumulativa de declínio acelerado de crescimento econômico. Esse processo foi definido por Gunnar Myrdal, Nobel de Economia de 1974, como uma situação em que, quando uma economia sofre um choque exógeno, ela pode não retomar ao ponto de equilíbrio, mas ir ampliando as distorções e os desequilíbrios à medida que o tempo passa.
Há certa perplexidade na opinião pública brasileira quanto à rapidez com que a crise econômica pós-pandemia avança no País, espraiando as suas mazelas sociais e os seus impactos econômicos adversos sobre todos os setores e regiões. Trabalhadores veem os seus empregos evaporarem. Prefeitos e Governadores veem a sua arrecadação tributária e as transferências de recursos do Governo Federal despencarem. Empresários veem suas encomendas e vendas encolherem. Fica a pergunta: se a recessão se aprofundar e se prolongar, existe o risco de que até 2021 se transforme em depressão econômica?
Recessão ou depressão?
Enquanto a recessão pode ser considerada como uma fase declinante do ciclo econômico, a depressão tem várias características dramáticas, além de sua persistência por um período maior. Há uma redução drástica na taxa de crescimento anual do PIB em torno de 10 por cento. Uma elevação inusitada na taxa de desemprego em torno de 15 a 20 por cento. Um processo de empobrecimento generalizado da população. Uma crise de confiança que traz expectativas desfavoráveis nas decisões de consumo e de investimento, as quais são dominadas pelas incertezas.
Destaca-se, também, que uma depressão deixa cicatrizes indeléveis no sistema econômico. Durante a Grande Depressão nos EE.UU., a taxa de desemprego cresceu de 3,2, em 1929, para 25,2, em 1933, caindo do patamar de 17,2 apenas em 1939, após a expansão do emprego resultante das megadespesas militares da II Grande Guerra. De 1929 a 1933, ocorreu uma queda no PIB norte-americano de quase 30 por cento e nos investimentos de 86 por cento, durante o mesmo período.
Intensidade necessária contra a letargia
Não é improvável que a atual recessão econômica no Brasil se transforme em depressão se o Governo Federal não se conscientizar de que uma nova política econômica é indispensável para reverter o risco de uma depressão econômica. Uma política econômica de grande intensidade e adequado sequenciamento, que possa reverter o ambiente sombrio, letárgico e de transtorno emocional, típico de um contexto econômico depressivo. Para tanto, são necessários engenho e arte, desapego doutrinário, consenso participativo da sociedade e consistência decisória.
A probabilidade de uma eventual depressão econômica é significativa no Brasil, pois estamos entrando num processo de causação circular cumulativa de declínio acelerado de crescimento econômico. Esse processo foi definido por Gunnar Myrdal, Nobel de Economia de 1974, como uma situação em que, quando uma economia sofre um choque exógeno, ela pode não retomar ao ponto de equilíbrio, mas ir ampliando as distorções e os desequilíbrios à medida que o tempo passa.
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