Alfredo Lopes e Augusto Rocha (*)
Descrente da conversão dos adultos, Cecília Meireles, estrela da poesia pós-modernista brasileira, compôs para as crianças uma de suas preciosidades poéticas, Ou Isto ou Aquilo, “… Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo”. Temos que escolher, em clima de decisão vital, assumir ou não o timão do barco de nossas vidas e de nossos empreendimentos. Até aqui, nosso protagonismo se limitou à garganta. Não desembarcamos nas atitudes para alcançar as metas que dizemos querer. Temos o poder do trabalho que gera riquezas, mas não o utilizamos. Temos assento, ou deveríamos exigir esse direito, nas instâncias das decisões e falamos piano, bem pianinho na hora de se manifestar. Somos especialistas em ensaiar o protagonismo, mas o espetáculo decisivo nunca tem data de estreia. Não tinha. Agora, neste exato momento, não há protelação.
Saúde, produção, trabalho
Tempos não convencionais exigem medidas não convencionais. Sem consumo não há economia. Sem consumidor não há produção. Com apoio para mera subsistência teremos economia de subsistência. Precisamos ir além da subsistência. Precisamos de ações sistêmicas de proteção: saúde, produção, trabalho. Precisamos a proteção de tudo e de todos pelo Estado. O Estado é maior que o governo. O Estado possui a capacidade de tomar medidas impensáveis. Para sair da crise de 2008, entre setembro e dezembro a oferta de dinheiro dos EUA cresceu enormemente.
Há uma semana na Inglaterra:
Para empresas com até 250 empregados:
- um pacote de auxílio-doença estatutário para as Mês e um feriado de 12 meses de impostos para todos os negócios de varejo, hotelaria e lazer na Inglaterra.
- financiamento de subvenção para pequenas empresas de £ 10.000 para todas as empresas em recebimento de alívio de taxas de pequenas empresas ou alívio da taxa rural.
- subvenção de £25.000 para empresas de varejo, hospitalidade e lazer com imóveis com um valor rateável entre £15.000 e £51.000.
- Coronavirus Business Interruption Loan Scheme que oferece empréstimos de até £5 milhões para PME através do British Business Bank
- uma nova facilidade de empréstimo do Banco da Inglaterra para ajudar a apoiar a liquidez entre as grandes empresas, ajudando-as a reduzir a interrupção do coronavírus em seus fluxos de caixa através de empréstimos
Estamos falando como se 200 reais ou 400 reais fosse a solução.
Isso não resolve nada. Precisamos de medidas audaciosas sob pena de destruímos a economia. A ausência de recursos nas mãos do trabalhador significará ausência de consumo.
Micros e Pequenas Empresas nos EUA, segundo estudo do JP Morgan: 1/3 não são rentáveis; 47% só possui liquidez de caixa para duas semanas. Imagine aqui.
Fonte: Yahoo Finance
Retrato do Brasil
27% do PIB, 52% dos empregos com carteira assinada, 40% dos salários pagos
8,9 milhões de micro e pequenas empresas
Fonte: Sebrae
Qual o grande problema?
Uma armadilha de liquidez. Faltará liquidez no mercado. Precisamos de mais dinheiro circulando. Precisamos de dinheiro circulando com as famílias e não com os bancos. As famílias sem recurso. Isso já foi discutido em um estudo clássico “Baby-sittin Coop”, também discutido por Paul Krugman ao analisar a crise de liquidez de 2008. Journal of Money, Credit, and Banking in 1978 and entitled, “Monetary Theory and the Great Capitol Hill Baby-Sitting Co-op Crisis” by Joan and Richard Sweeney.
Fonte: http://www.eecs.harvard.edu/cs286r/courses/fall09/papers/coop.pdf
PAUTAS & PLEITOS
- R$ 15.000 de subvenção por até dois meses para empresas de 1 a 14 funcionários, se o faturamento cair 50% ou mais em relação ao mês de fevereiro/2020.
- Redução de salário e jornada de até 100% dos salários para empresas até 250 funcionários.
- Redução de salário e jornada de até 50% dos salários para empresas com mais de 250 funcionários. Complemento integral do salário para até o limite da média de remuneração do Brasil: R$ 2.340,00.
- Redução ao mínimo de 1% de todos os impostos por dois meses de todas as empresas que o faturamento do mês de março, abril ou maio caia mais que 60% em relação a fevereiro/2020;
- Linhas de crédito, com juro de 1% ao ano para empresas que tiverem seu faturamento reduzido 50% ou mais nos meses de fechamento, tendo como base fevereiro/2020. A Linha de Crédito deve ser igual ao total da folha de pagamento mensal vezes o número de meses afetados, até um máximo de três meses. De onde vem o recurso? As medidas para a crise de 2008 devem servir de exemplo.
(*) Alfredo e Augusto, são autores em https://brasilamazoniaagora.com.br
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