O Brasil não está se preparando para os impactos do aquecimento global sobre o setor agrícola. Apesar dos grandes riscos que o setor enfrenta, e as consequências potencialmente desastrosas para a economia, estudo publicado no jornal Territorium revelou que as publicações gerais e científicas sobre o tema ainda não ocorrem em volume considerável no país.
De acordo com o estudo, os principais eventos climáticos ligados a desastres naturais no Brasil são estiagem e seca, inundação brusca e alagamento, inundação gradual, vendaval e/ou ciclone, tornado, granizo e geada. Comparando-se os eventos da década entre 2001 e 2010 com aqueles da década entre 1991 e 2000, registrou-se aumento da frequência, intensidade e duração de eventos de calor e aumento da intensidade de chuvas fortes.
A agricultura depende em grande medida das condições climáticas. Eventos extremos podem prejudicar a produção agrícola, as populações rurais, e provocar danos econômicos aos ativos do setor. Frente ao avanço do aquecimento global e às mudanças climáticas em curso, torna-se cada vez mais importante a gestão dos riscos climáticos no setor agrícola. No Brasil, é o caso, por exemplo, da ferramenta do zoneamento agrícola.
Divulgação central na gestão de riscos
Um ponto central na gestão de riscos constitui a divulgação de resultados de pesquisas científicas para a população. A conscientização dos riscos, e portanto da eficiência da divulgação dos mesmos, pode ser medida através do interesse da sociedade pelo tema.
Para traçar o interesse dos riscos climáticos no setor agrícola, o estudo promoveu um levantamento quantitativo de publicações gerais e científicas, disponíveis na internet, ao longo de 10 anos – entre
janeiro de 2009 e dezembro de 2018. Os pesquisadores reuniram todas as publicações que incluíam o termo ‘clima’, bem como aqueles com o termo ‘clima’ em combinação com ‘agrícola’, ‘rural’, ‘urbano’ e ‘cidade’.
Também exploraram as tendências de volume de uso de palavras-chave no ferramenta de pesquisa ‘Google Trends’. Além dos termos acima, também se levantou as tendências no volume de pesquisa das expressões ‘desastres naturais’, ‘riscos naturais’ e ‘riscos climáticos’ ao longo de todo o período. O estudo inclui tanta a pesquisa orgânica dos termos quanto a pesquisa de notícias ligadas aos termos.
Foco nas cidades
O interesse dos internautas pelo tema do clima registrou um grande crescimento a partir de agosto de 2018. Os resultados mostraram um maior interesse em notícias do clima ligadas ao ambiente urbano e às cidades do que em notícias do clima na área rural ou no setor agrícola.
Notícias de desastres naturais se destacaram, com pequeno interesse em notícias sobre riscos naturais. A pesquisa sobre notícias relacionadas a risco climático foram muito pouco expressivas. A demanda de busca por publicações que combinam clima com urbano/cidade ou rural/agrícola aumenta a partir de 2014.
Em termos de publicações científicas existentes na internet, o estudo detectou uma grande disparidade. A grande maioria delas focava nas cidades, enquanto que aquelas com inclusão do termo rural eram bem inferiores em quantidade.
Dada a importância do setor agrícola para a economia brasileira, os resultados indicariam uma menor pertinência e disseminação social do debate sobre risco climático e agricultura. A preponderância do interesse e das publicações no interesse urbano também poderia estar associadas ao problema da valorização do espaço rural.
O estudo ressaltou para a natureza preliminar dos resultados, que demandam pesquisas complementares. Mas eles sugerem uma grave lacuna na abordagem do temas das mudanças climáticas no país. Recomenda-se planejar estratégias de sensibilização e conscientização direcionadas para o setor agrícola.
Fonte: Ciência e Clima
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