Que a tecnologia nos ajude salvar a nós mesmos e que a democracia se fortaleza, seja na configuração tradicional ou com base na e-democracia.
——Por Farid Mendonça Júnior(*)——
A internet e todas as tecnologias dela decorrentes já estão no dia a dia da vida do ser humano, atuando como grandes indutores de desenvolvimento e determinando o novo ritmo do capital e do próprio capitalismo. A internet se tornou algo indissociável de nossas vidas. E, inesperadamente, pequena pausa nesta trajetória do binômio capitalismo e internet para uma catástrofe sem precedentes no mundo moderno: a pandemia do coronavírus. Tivemos que fechar nossas fábricas, nossos comércios e nossos serviços e nos fechar em nossas casas para nos proteger de nós mesmos.
O capitalismo derrete, mas a internet segue firme
A sociedade tem que reprogramar seu modo de vida, bem como o Estado. O legislativo brasileiro, Senado e Câmara, decide, pela primeira vez na história, realizar sessões virtuais, por meio da internet. E assim seguem o exemplo as assembleias e câmaras legislativas. A internet salva a democracia, ou pelo menos lhe garante permanência. As pessoas, isoladas em casa, ainda precisam comer, beber, usar a energia elétrica, tomar banho, tomar remédios. Novamente entra em cena a internet para conectar e atender a demanda que sobrou da nossa economia, uma demanda de guerra, ou melhor, do coronavírus.
As sombras em novas dimensões
A internet garante os níveis mais baixos da pirâmide de Maslow (as necessidades básicas). Mas, não podemos esquecer que atende em parte a sociedade, pois muitos ainda tem que sair da caverna de Platão, não para entender a sombra da desinformação, mas a fim de trabalhar e garantir uma renda mínima para continuar sua existência na economia da pandemia. Mais uma vez entra em ação a internet, com os pedidos de delivery das ditas necessidades básicas. As pessoas, “encasteladas” ou “favelizadas”, ainda assim procuram informação sobre como está a situação fora da caverna, o que o Leviatã (Estado) anda fazendo para aliviar seu sofrimento e para entender a própria evolução da pandemia não só no Brasil, mas no mundo todo.
Desespero: é preciso entender ou aliviar
Estas informações chegam também por meio da internet, das conversas de whatsapp em forma de notícias de blogs, jornais, mas também de Fake News. O importante é encontrar uma informação para se agarrar, seja para justificar o desespero ou para aliviá-lo. Outros resolvem dar demonstrações de carinho, amor, sentimentos bons ou ruins. Declarações, composição de músicas, piadas, brincadeiras, cenas de violência, etc. E tudo isso também vai parar no vaso da internet.
Avançou ou embaralhou a comunicação?
Talvez a diferença da caverna de Platão para a caverna do mundo moderno é que na primeira as cavernas não se comunicavam, enquanto que na caverna da Modernidade a comunicação flui bem rápido, com poucos cliques e em pouquíssimos segundos. Isso avançou ou embaralhou a comunicação interpessoal? Apesar de tudo, a internet também está servindo mais do que nunca como instrumento de indignação ou apoio da população ao governo, ao legislativo, ao judiciário e às políticas públicas em geral. Talvez nunca antes na história do mundo viu-se tanta e-participação, tanta e-democracia, mesmo que girando em torno da atual problemática da pandemia. Resumindo, a internet tornou-se neste momento a mais efetiva ponte de interação entre seres humanos que se “enfeudalizaram” devido ao risco de contágio.
Sequelas e mudanças do vira-a-ser Protagonismo civil?
Depois que a tormenta passar, o dia seguinte da desesperança, a sociedade irá(?) sair totalmente das suas cavernas, retomar a construção ou reconstrução da civilização, mas sequelas vão ficar, não só psicológicas, mas também na política e no mercado. No cenário pós-pandemia, estaremos muito mais envolvidos e dependentes da internet. Pediremos muito mais nossas comidas e remédios por delivery pelo aplicativo, entre diversos outros serviços. Na política, a forma de fazê-la talvez sofrerá mudanças, com uma desejável participação e influência cada vez maior por parte da sociedade, fomentando a e-participação da população. Entre as lições e os legados, passaremos a naturalizar a realização de sessões virtuais de nossos parlamentares, aumentando-se a e-democracia, ao menos por este ponto de vista. Conquistaremos mais espaço para o protagonismo civil?
“Deus não joga dados”
O fato é que não seremos os mesmos. Einstein uma vez disse “a mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”. Portanto, o uso da internet em nossas vidas só aumentará. Ainda invocando Eisntein, cabe indagar os sentidos de um seus enigmas: “Deus não joga dados”. Talvez para nos fazer pensar que nada oco rre por acaso, tudo tem uma razão de ser. Se a internet vai seguir possibilitar mais ou menos democracia permanece uma incógnita, até mesmo porque tempos economicamente difíceis virão. E é sempre bom lembrar o que aconteceu após a crise de 1929: ascensão de Hitler ao poder e II Guerra Mundial. Que a tecnologia ajude salvar a nós mesmos e que a democracia se fortaleça, seja na configuração tradicional ou com base na e-democracia.
(*)Farid Mendonça Júnior é advogado, economista e administrador
Comentários