Mês a mês, a destruição da Amazônia atinge novos recordes. A taxa oficial de 2020, divulgada há poucos dias, revelou que devastação da maior floresta tropical do mundo atingiu a maior taxa em 12 anos. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que responde ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, sob o comando de Marcos Pontes.
No mesmo dia em que os números acima foram divulgados, o ministro afirmou que o Inpe deverá ter um corte no orçamento em torno de 15% em 2021.
“Para o ano que vem a expectativa não é boa. Por razões óbvias, todo mundo tem acompanhado o aperto fiscal que nós temos, essas restrições todas, não é só o Ministério de Ciências e Tecnologia, todos os ministérios passam ou vão passar pelo mesmo aperto ano que vem”, revelou Pontes. “Provavelmente nós teremos sim uma redução de orçamento, não vou conseguir proteger o orçamento da maneira como está”.
Em agosto, já havia sido noticiado que uma planilha do Inpe para 2021 mostrava que o orçamento para pesquisa, desenvolvimento e “capital humano” foi zerado.
De acordo com reportagem divulgada pela Folha de S. Paulo na época, o instituto teve um orçamento de R$ 118 milhões em 2020, mas a previsão para 2021 já era de queda, para R$ 79 milhões, redução de aproximadamente 33%.
Como já escrevi aqui no Conexão Planeta antes, historicamente, o governo federal sempre levou em conta os índices de demastamento da Amazônia publicados pelo Inpe. Eles eram considerados os ‘oficiais’. Nunca antes foram contestados.
Todavia, desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, a atual administração tem se mostrado desconfortável com as taxas de desmatamento (em franco crescimento) apontadas pelo instituto. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a mencionar que estaria pensando em contratar empresas privadas para realizar o monitoramento da floresta. E não foi só ele. Diversos outros integrantes do governo tentam, de qualquer forma, desqualificar o trabalho do órgão.
A situação chegou a um nível tão constrangedor, que em julho de 2019, cientistas refutaram as declarações do governo contra o Inpe, em nota à sociedade e carta a Bolsonaro. No documento, mais de 50 integrantes da Coalizão Ciência e Sociedade defenderam o instituto, que é estratégico não só para o controle do desmatamento e a regulação das mudanças climáticas, mas também para a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade da economia, incluindo o agronegócio.
Não bastasse tentar colocar em dúvida o sério trabalho realizado pelos cientistas do Inpe, a credibilidade de Ricardo Galvão, diretor do instituto, também foi posta em dúvida.
De maneira vil e baixa, Bolsonaro agrediu o profissional. “Se for somado o desmatamento que falam dos últimos 10 anos, a Amazônia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo”, disse o presidente. E ele foi além. “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão… Mandei ver quem está à frente do Inpe. Até parece que está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum”.
Insultado com as afirmações, Galvão se defendeu e afirmou que não deixaria o cargo. “Tenho 71 anos, 48 anos de serviço público e ainda em ativa, não pedi minha aposentadoria. Nunca tive nenhum relacionamento com nenhuma ONG, nunca fui pago por fora, nunca recebi nada mais do que além do meu salário com o servidor público”.
O diretor falou ainda sobre o trabalho do instituto, muito respeitado não só no Brasil, como no exterior também. “Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais respeitada mundialmente”.
Em agosto, o diretor do Inpe foi exonerado de seu cargo após os ataques sistemáticos de Bolsonaro e Salles.
E em 2020, os ataques ao Inpe continuaram. Há cinco meses, Lubia Vinhas, responsável pela área de Observação da Terra, que monitora o desmatamento, foi exonerada após divulgação de dados sobre a devastação na Amazônia.
Mais recentemente, o vice-presidente e coordenador do Conselho da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, disse que havia alguém no órgão “fazia oposição ao governo” e divulgava dados negativos.
Parece que difamar o Inpe não gerou resultados, então a atual tática é cortar o orçamento.
Fonte: Conexão Planeta
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