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Entrvista com Jorge Júnior presidente da Eletros
Fundada em 1994, a Eletros é uma entidade sem fins lucrativos, que reúne as principais indústrias do setor atuantes no país, buscando seu desenvolvimento e operacionalidade. Sua missão é representar as empresas associadas perante o poder público brasileiro e outras entidades representativas. Seus associados estão distribuídos em conselhos temáticos (linha branca, marrom e portátil), comissões (assuntos legislativos e comércio exterior) e grupos temáticos (meio ambiente e operações tributárias).
Passados quatro anos de crise, o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento, avalia que 2019 apresenta um ensaio de retomada para a economia brasileira em geral e para a indústria eletroeletrônica geral – majoritariamente instalada na ZFM (Zona Franca de Manaus).
O dirigente lembra que o segmento eletroeletrônico foi um dos que mais sentiu o baque da crise, já que bens de consumo – especialmente os que dependem mais de acesso ao crédito, excedente de renda e que não são considerados essenciais – costumam ser mais sensíveis ao ziguezague da demanda.
Embora o crescimento médio (+5%) das mais de 500 linhas de produção, distribuídas pelas linhas branca, marrom e de eletroportáteis não tenha passada da metade do projetado pela Eletros neste ano (+10%), e apesar da fabricação de televisores ter retornado ao nível de 2010, Jose Jorge do Nascimento, considera que os sinais no horizonte são animadores para a indústria.
Além da aparente recuperação econômica e menor instabilidade política, o executiva elenca outros pontos positivos de 2019. Um deles vem da nova Lei de Informática, que não gera perdas para a Zona Franca e mantém suas vantagens. Outro é o desempenho positivo de produtos exclusivos do PIM (Polo Industrial de Manaus), como os condicionadores de ar, que também sinalizam bons resultados para o próximo ano – além de televisores e celulares.
A recente escalada do dólar e a permanência do viés de alta na moeda americana é um dos pontos negativos para a indústria em 2019 e uma sombra sobre 2020, segundo o presidente da Eletros. Isso se deve em virtude do impacto do câmbio no custo dos insumos e da dificuldade de repasse da indústria ao consumidor em uma economia ainda titubeante.
Reforma e abertura
A Reforma Tributária e a abertura comercial ensaiada pelo governo federal na gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentam muitos riscos e algumas oportunidades. No entendimento do dirigente, o governo do Estado e a bancada parlamentar amazonense no Congresso Nacional terão de redobrar esforços para que não passe nenhuma alteração que arranhe as vantagens e direitos da Zona Franca em uma reforma muito mais aguerrida e com o jogo de forças entre os Estados desequilibrado.
No caso da abertura econômica, o presidente da Eletros observa que não adianta manter vantagens se a indústria nacional continuar sofrendo bombardeios externos, por intermédio da derrubada de alíquotas de importação que comprometem a competitividade da manufatura brasileira diante de similares importados – e com menos custos embutidos em sua fabricação.
A mesma abertura comercial, segundo Jose Jorge do Nascimento, pode apresentar oportunidades para a indústria da ZFM abrir caminho para aumentar suas exportações para os países vizinhos do continente americano, desde que seja feita no âmbito de um processo mais controlado.
O caminho é longo. Dados da Suframa confirmam que o percentual da produção do PIM destinado ao mercado estrangeiro é, invariavelmente de um digito e frequentemente de 2% a 5% do total. E as vendas externas não foram bem neste ano, embora tenham voltado a subir (+15,43%) na comparação de novembro (US$ 79.51 milhões) com o mesmo mês do ano anterior (US$ 47.48 milhões). No acumulado, o saldo foi negativo em 3,56%, totalizando US$ 655,16 milhões.
“Sabemos que a Zona Franca de Manaus foi criada como uma área de substituição de importações, para o consumo interno, por intermédio do Decreto 288/1967. Mas, os tempos são outros, e há oportunidade de a ZFM aproveitar sua localização estratégica para ampliar as vendas para a América do Sul e Central”, arrematou.
Jornal do Commercio – O ano começou cheio de expectativas, mas demorou para engrenar na economia, pelo menos até a aprovação da Reforma da Previdência. Qual o balanço da Eletros sobre 2019?
José Jorge do Nascimento – Vemos o ano como muito positivo. Viemos de quatro, cinco anos de crise econômica e política muito intensas, com números muito ruins. E o segmento eletroeletrônico é um dos que mais sentem isso daí, porque são produtos de consumo. Em 2019, apesar de termos tido um crescimento médio de 5%, e a previsão inicial ter sido de 10%, o setor eletroeletrônico, que envolve bens de informática, linhas branca, marrom e de portáteis, em mais de 500 produtos, ficou dentro da média. Eletroportáteis cresceram muito, em torno de 25%, mas a linha de áudio e vídeo, que é muito importante na Zona Franca de Manaus, avançou apenas 2,9%. Claro que a base de comparação é de um ano de Copa, mas estamos com os números equivalentes a 2010, com a produção de 12 milhões de TVs, para você ter uma ideia.
JC – Quais foram as principais vitórias e derrotas especificamente da indústria eletroeletrônica, em 2019?
JJJ – As principais vitórias são esse ensaio de retomada e a possibilidade de identificarmos um crescimento, em um momento ainda turbulento politicamente e com 13 milhões de desempregados, embora com um governo estável. A aprovação da nova Lei de Informática foi muito positiva para a ZFM, assim como essa estabilidade econômica que se avizinha. As principais derrotas foram a variação do dólar e o fato de não termos ainda um ambiente tão ideal como a gente almejava
JC – Quais são os maiores obstáculos e oportunidades para o setor, em 2020?
JJJ – Teremos a discussão sobre a Reforma Tributária e a manutenção das vantagens comparativas da Zona Franca de Manaus é o grande desafio. Não tem como a gente pensar em reforma sem essa garantia e isso é um trabalho do governo do Estado, mas também da nossa bancada, forte, aguerrida. Outro problema é a abertura comercial, porque não adianta nada manter as vantagens, se tivermos redução de Impostos de Importação, sem termos a melhoria do ambiente de negócios no país. Não teremos como competir com os importados. A abertura comercial também é uma grande oportunidade, se conseguirmos fazer com que a ZFM seja, enfim, um grande centro exportador para a América Latina.
JC – Quais serão as linhas de produção em alta do segmento eletroeletrônico em 2020?
JJJ – Os produtos com maior potencial de aquecimento são televisores, celulares e eletroportáteis. O ar condicionado foi um produto de grande destaque em 2019, com quase 25% de crescimento em relação a 2018. Vamos produzir quase 3,5 milhões de unidades, em um ano atípico para a economia. Nossa expectativa é que isso se mantenha em 2020.
JC – Qual a importância dos 116 anos do Jornal do Commercio para a cidade de Manaus e para a indústria eletroeletrônica?
JJJ – Sem dúvida nenhuma, é um veículo especializado e presente em todo o setor produtivo. O Jornal do Commercio é uma referência por ser um matutino centenário e, principalmente, por falar a linguagem que interessa o setor produtivo. Temos o jornal como uma âncora, um porto seguro para o esclarecimento de nossas dúvidas. É um exemplo e um motivo de orgulho para os setores econômicos do Amazonas e por seu papel no desenvolvimento do Estado.
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