A CNI acaba de lançar um panorama retroativo e prospectivo da Economia Brasileira 2020-2021. Informações importantes e necessárias para a compreensão, análise e definição dos investimentos. Antônio Silva, Presidente da FIEAM e vice presidente da CNI.
A pandemia de coronavírus abalou a economia global em 2020. Não foi diferente no Brasil, que, além de ter sofrido com a tragédia da doença em si, mergulhou em profunda crise econômica. Apesar de chegarmos ao fim do ano em recuperação, o grau de incerteza permanece elevado e os efeitos da crise ainda se farão presentes em 2021 e, provavelmente, nos anos seguintes. A economia brasileira ainda estava se recuperando da crise de 2014/2016, quando a necessidade de isolamento social para conter o avanço da Covid-19 paralisou o setor produtivo em abril. Nesse primeiro momento, Serviços, Comércio e Indústria experimentaram redução brusca da demanda e restrições em sua capacidade de operar.
Recuperação heterogênea
A partir de maio, as dinâmicas foram diferentes. O segmento de serviços foi o mais afetado. Foi o primeiro a ser impactado e o último a reabrir no processo de flexibilização das medidas de distanciamento social. Foram afetados, em especial, os serviços ofertados às famílias, que requerem a presença do consumidor (bares e restaurantes, por exemplo). A recuperação tem sido gradual e só se iniciou em junho.
Comércio e Indústria, de modo geral, iniciaram a recuperação em maio e retornaram rapidamente ao nível pré-pandemia. O comércio varejista voltou ao patamar do volume de vendas antes da crise em junho e a indústria de transformação, em setembro. Note-se que tanto no Comércio como na Indústria a recuperação tem sido heterogênea, com setores já acima do nível pré-pandemia e setores ainda abaixo desse nível.
Parte das diferenças no ritmo de recuperação é explicada pelas mudanças no padrão de consumo. De certo modo, a demanda por bens de consumo Em 2021 o desafio será voltar a crescer de forma sustentada não duráveis foi pouco afetada, enquanto a procura por bens de consumo duráveis e por serviços ofertados às famílias caiu consideravelmente.
O auxílio emergencial e a permissão do saque emergencial do FGTS ajudaram a recompor parte das perdas de renda da população com a pandemia. Com isso, algumas famílias mais vulneráveis até observaram aumento da renda e puderam, inclusive, aumentar o consumo, sobretudo de bens de consumo não duráveis, como alimentos, material de limpeza e produtos de higiene pessoal.
As famílias de maior renda aumentaram a poupança, seja por precaução, seja pela impossibilidade de consumir em razão do fechamento do comércio. Ademais, o processo gradual de reabertura, pelo lado da oferta, e o temor do contágio, pelo lado da demanda, fizeram com que a recuperação dos serviços se mantivesse lenta. Como resultado, o consumo de bens aumentou sua participação nos gastos das famílias com relação aos serviços.
Outro efeito da crise foi a desorganização das cadeias produtivas e o aumento dos preços. Os diferentes setores da economia foram atingidos com intensidades diferentes, o que resultou em interrupções parciais ou totais em alguns elos das cadeias.
No período mais crítico da pandemia, a redução na produção foi imediata, sem o acúmulo de estoques. Adicionalmente, a elevada incerteza e a falta de receita levaram as empresas a reduzirem ainda mais seus estoques. Isso ocorre pois, quando o risco de insolvência é alto, acumular estoques deixa de fazer sentido.
A recuperação da demanda foi mais rápida que o esperado. A flexibilização das medidas de distanciamento social se iniciou, no fim de maio, na maior parte do Brasil. Além disso, as medidas de proteção às empresas e famílias, implementadas pelo governo federal e o Congresso Nacional, se mostraram eficazes.
O setor produtivo não conseguiu responder de forma homogênea provocando restrições nos elos das cadeias produtivas. A Indústria está com dificuldade de obter insumos e/ou matériasprimas e, consequentemente, com dificuldade de atender seus clientes.
À falta de insumos se somou o aumento nos preços também estimulados pela desvalorização do real e demanda crescente da China. A desvalorização da moeda brasileira encareceu não só os insumos importados como também os produzidos nacionalmente, mas cujo preço é atrelado ao mercado internacional.
Finalmente, a própria mudança em hábitos de consumo afetou, pontualmente, alguns mercados de insumos importantes. O aumento do comércio eletrônico e o aumento de serviços de delivery aumentou a demanda por embalagens, por exemplo.
Como resultado de todos esses efeitos temos uma produção industrial crescendo, mas menos do que o suficiente para atender a demanda. Além disso, notamos expressivo crescimento dos preços, sobretudo, o de insumos, matérias-primas e alimentos. O Índice de Custo com Bens Intermediários (componente do Indicador de Custos Industriais, da CNI) encerrou o terceiro trimestre de 2020 com alta de 15,5%, na comparação com o mesmo trimestre de 2019. Uma primeira herança dos efeitos da crise de 2020, que se estenderá para 2021.
A dificuldade de se obter insumos deverá terminar no segundo trimestre de 2021, assim como a pressão sobre os preços, como resultado tanto da valorização do real, como da reorganização das cadeias produtivas.
A recuperação está em andamento, mas o crescimento econômico no terceiro e quarto trimestres não serão suficientes para salvar o ano de 2020. O PIB deverá cair 4,3% na comparação com 2019 e o PIB industrial, 3,5%. A queda do PIB que projetamos em 2020 ficou muito próxima à prevista no cenário base do primeiro Informe Conjuntural do ano, de maio.
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Fonte: CNI
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