Foto:Divulgação/Internet
Augusto Cesar Barreto Rocha (*)
Em 2012, no último ápice da ZFM, surgiam os primeiros indícios de uma crise. Escrevi alguns artigos naquele ano sobre o tema, em especial após alguns estudos de cenários, iniciado pelo texto “US$ 40 bilhões é pouco”, que foi seguido de outros no mesmo diapasão. Neste período de reflexões de final de 2019, é possível perceber sinais exatamente opostos: a crise acabou. Em minha opinião, o marco que indica este novo ciclo de crescimento que se avizinha foi a medida do Comitê de Política Monetária que reduziu a taxa de juros SELIC para 4,5% ao ano, que é a menor já praticada.
Os investimentos serão necessariamente movidos para o setor produtivo, pois capitalistas presam o seu capital. No mundo, há uma indústria de ideias que sempre vende algo. Os Think Tanks locais e globais estão sempre dando, vendendo e espalhando ideias. Quais as ideias que compraremos para o nosso futuro próximo? Quais ideias compramos em 2019 e que alterarão a nossa prática de 2020? Muitos de nossos pensadores locais estão voltados certamente para a necessidade de desenvolver a região e isso é ótimo. Uma pena que há alguns que pensam apenas em defender ideias e interesses estranhos aos nossos, mas isso acontece em todos os lugares.
O que falta nos pensamentos da região é a reflexão sobre como fazer. Abundam críticas e faltam propostas. Dentre as poucas que surgem, os líderes não gostam de ouvir. Há ainda uma dificuldade de discernir que a diversidade é que constrói as melhores as soluções. Há um primitivismo no pensamento que acha que apenas o que vem de fora é apropriado. Existe um apego com o que muitos líderes pensam, sem a capacidade de interação com outros. Como se dividir crédito fosse abrir mão de riquezas.
O crescimento do bolo para todos é mais importante do que o tamanho da fatia, como diz o velho ditado de negociações: é preciso enxergar caminhos para ganhos de todos e não para ganho apenas de alguns. Talvez por este comportamento, a nossa indústria de ideias é lenta. Muitos dos que aqui se aventuram por este campo fazem castelos no ar e indicam saídas, com um lado de aplauso pelo simples prazer de aplaudir e de outro o silêncio pela simples incapacidade de dialogar ou fazer. Enquanto não tivermos a capacidade de pensarmos a respeito de nós mesmos e de encontrarmos as nossas soluções sem depender do pensamento estrangeiro sobre o que fazer no Amazonas, teremos dificuldade na transformação de nossa realidade. As sociedades compreendem as mudanças necessárias e, por vezes, abrem mão de tradições históricas na esperança e na busca de uma nova ordem.
O que os ingleses fizeram na eleição de Boris Johnson também na semana passada deixa isso bem claro. A última eleição para governador no Amazonas espelha comportamento semelhante. O mundo anseia por mudanças e pelo empoderamento da sociedade local.
No início das reflexões de final de ano é interessante pensar nas sementes que plantaremos para 2020. Como dito pelo Mestre, por meio de seus discípulos (ou ainda em antigo provérbio chinês), o cultivo é opcional, mas a colheita será obrigatória. Precisaremos sair da lógica de seguir o interesse estrangeiro e começar a cuidar de nossos próprios interesses. Isso poderá ser bom ou ruim, mas pelo menos terá sido por uma decisão nossa e não teremos como colocar a culpa nos outros.
Tudo me leva a crer que iniciaremos um novo ciclo de prosperidade. Para que não seja o nosso conhecido “voo de galinha”, poderemos nos inspirar nas araras que costumam voar em grupo. A Amazônia e o Amazonas não podem depender de outros pensadores que não aqueles que já estão por aqui. Que nestas reflexões de 2019 para 2020 comecemos a trazer para nós uma nova análise crítica sobre a realidade e uma responsabilidade sobre o que e como fazer as construções do presente para o futuro da região, em prol de nós mesmos.
(*) Professor da UFAM.
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