Visionário e cidadão do mundo, o governador Gilberto Mestrinho sempre defendeu a abertura das fronteiras da Amazônia para quem quisesse vir para a região nos ajudar a investigar os mistérios e as promessas da floresta. Ele convidou as maiores instituições de pesquisa da Terra para fincar aqui unidades de investigação científica, incluindo o lendário MIT (Massachusetts Institute of Technology). Dizia que o mundo civilizado, há muitos séculos, já sabe que aqui estão as senhas de acesso para atender os grandes sonhos, decifrar enigmas e atender as demandas de saúde, energia e longevidade que a Humanidade tanto procura.
A Mitologia Greco-Romana, retomada pelo Renascimento Europeu, é fértil e repetitiva, ao longo dos séculos, em postular a existência da Fonte da Juventude, formada pelas águas do rio que se originava no Monte Olimpo. Quem nela se banhasse assimilava a perenidade dos deuses, jamais morreria nem envelheceria. Este, certamente, é o maior anelo da condição humana. Não é por outra razão que a indústria da beleza eterna passa ao largo das crises. Com a descoberta do Novo Mundo e com a propaganda nas cortes europeias das lendas e mistérios da Amazônia, o mito do bom selvagem passou a habitar o noticiário miraculoso transformado em verdade, sobretudo no que diz respeito às poções mágicas da eterna juventude. O Eldorado é Verde, insistia o grande Mestre Gilberto, para ilustrar as promessas da biodiversidade amazônica. Eis a razão pela qual insistia no estudo dos fungos e bactérias. Se na floresta boreal a ciência descobriu pouco mais de duas centenas de fungos e bactérias, na Amazônia, dizia, passam de dois mil a população desses seres primitivos em nossas espécies.
Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – uma das mais respeitadas em ambientes internacionais do setor nutricional – mantém sob pesquisa constante o valor nutricional dos cogumelos de origem tropical. O fungo, desprovido de raiz e de clorofila, tem importante ação antioxidante na compreensão/controle do envelhecimento das células. Alfred Russel (1823-1913), cientista britânico, estudioso da botânica amazônica, dizia que a descoberta (de “ações antioxidantes”, para usar o jargão dermocosmético), dessas propriedades da flora amazônica iria fornecer a chave para a perenização das células. Ou seja, a renovação constante da vida.
Não há dúvida que essa discussão tende a ganhar densidade e atenção dos negócios com os estudos de fungos e bactérias da Amazônia. E a Ciência não se referia, apenas, à questão dermocosmética, medicinal ou nutracêutica. Está em pauta à própria conceituação ética e a discussão moral do modo de produção e consumo em vigor. Fungos e bactérias são riquíssimos em nutrientes, fortalecem o sistema imunológico, estimulando as células que combatem infecções por vírus e células tumorais. Suas fibras solúveis ajudam na digestão e atuam na remoção de resíduos e toxinas intestinais. Promover essa Indústria significa combater a indústria da doença e estabelecer uma nova relação entre economia, ecologia e ética. E se o desafio é formular uma alternativa econômica, social e ambiental para o Amazonas não precisamos queimar pestana. Fungos e bactérias são uma proposta bacana. Eis uma versão alternativa do projeto que nos compete acalentar para a Amazônia, produção e consumo dos fungos da perenidade da vida, e cultivo das bactérias da saúde, aquelas que nos induzem a instalar uma indústria coerente e inteligente com a sustentabilidade que estamos apreendendo a adotar como paradigma saboroso da prosperidade e da partilha de tantas oportunidades.
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